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Hangar 110: templo brasileiro do rock fechará as portas em 2017

O Hangar 110, conhecido por muitos como o CBGB brasileiro, anunciou que a temporada de 2017 será a sua última. A notícia é recebida com muita tristeza pelos fãs não só do bar, mas da música de maneira geral. Localizado na Rua Rodolfo Miranda 110, próximo ao metrô Tiradentes, no bairro paulistano do Bom Retiro, o Hangar se tornou uma espécie de referência na cena underground de todo o país, lar de diversas bandas.


Fundado em outubro de 1998, o Hangar 110 deu espaço não apenas às bandas conhecidas, mas deu espaço também às bandas que estavam começando e que não tinham tantos lugares para tocar -- ou que não eram acolhidas em lugar algum, afinal, o rock and roll, àquela altura, final da década de 90, era, em parte, uma cultura bem mais underground que à de atualmente. E claro, essa cultura não era o estilo em voga no momento.


Hoje, alguns músicos compartilharam suas opiniões a respeito dessa triste notícia. O frontman do Blind Pigs, Henrike Baliu, escreveu que lembra-se da inauguração do Hangar. "Era Gritando HC com o CPM 22 abrindo. Fui de carona com os caras do CPM. Enchi a lata, fiquei muito bêbado, vomitei no camarim, protagonizei uma cena vergonhosa. Lembro do Alemão (Marcão), dono do pico, gritando comigo falando que minha banda nunca iria tocar lá. Xinguei de volta. Punk bêbado é foda. O saudoso Donald me encheu o saco depois desse episódio pra eu ir lá me desculpar com o Marcão. Engoli o orgulho e fui. E o Hangar virou a casa do Blind Pigs. Por muitos anos o Blind Pigs levou o rótulo de "banda do Hangar". Até gravamos um disco ao vivo lá, o infame "Suor Cerveja e Sangue". Foram muitos shows incríveis e memoráveis. Se não fosse o Hangar, a história do Blind Pigs e da cena punk/HC paulista hoje seria muito diferente", escreveu Henrike em sua rede social.


Val Pinheiro, baixista e membro fundador do Cólera, camaradas antigos da cena punk do país, também se manifestou a respeito do fechamento do Hangar. "Estou aqui em nome do Cólera para dizer o quanto o Hangar 110 sempre foi e sempre será importante em nossa longa história, local onde bandas do underground, não só de São Paulo, como do mundo inteiro, se apresentou. Muitos de nós tivemos a honra de dividir este palco com UK Subs, Stiff Little Fingers, GBH e Dead Kennedys. Nesta hora, não posso me calar e ficar de braços cruzados esperando pelo fim de um dos principais patrimônios culturais do país."


O Hangar 110 também ofereceu seu palco para muitas outras bandas do país, como CPM 22, Hateen, Dead Fish, Dance of Days, Matanza, Cueio Limão, Sugar Kane, Ratos de Porão, Fresno, Garotos Podres, Depois do Fim, Agrotóxicos, Gritando HC, Holy Tree, e inúmeras outras. De 1998 para cá, aquele imenso galpão amarelo e preto colaborou bastante com o rock nacional.


O fim do Hangar 110 se compara à triste história do fim do lendário CBGB (no Bowery, em Nova Iorque), local onde despontaram bandas como Ramones, Dead Boys, Television, Patti Smith, The Marbles e várias outras. O CBGB, no caso, teve de fechar as portas em outubro de 2006 devido ao alto valor do aluguel. Outro ponto que colaborou para o seu fim foi que, no incessante evoluir da cidade grande, o bairro da Bowery, que se modernizou bastante, não mais comportava um local fuleiro como o CBGB. Seus vizinhos queriam mesmo despejá-lo, e no fim, uma parte da história do rock também se perdeu. Agora, exatos dez anos depois, em outubro de 2016, vem o anúncio do Hangar 110. Triste.


Quem fez o anúncio foi seu proprietário Marco Badin, o Alemão. Ontem, 19 de outubro, rolou um evento no Hangar para comemorar os 18 anos da casa, e, aproveitando o momento, o Alemão subiu ao palco e fez um discurso de agradecimento e anunciou o fim do templo. Um usuário, identificado como Thiago Ones, fez um vídeo do momento e o disponibilizou na rede social Facebook. Novamente, triste. Muito triste.


Clique AQUI para ver o momento em que Alemão anuncia o fim do Hangar 110.

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