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Falando um pouco sobre discos de vinil e CDs

Num mundo cada vez mais dominado pela mídia digital, ainda existe um público restrito (porém fiel), que acredita na ascensão do velho formato

"Falando um pouco sobre discos de vinil e CDs" por Rafael Fioravanti | Bolha Musical

Comparado ao mercado atual, onde as pessoas prezam cada vez mais por um áudio de qualidade excelente, os discos de vinil (ou LP, acrônimo de Long Play, como são popularmente chamados), já são considerados obsoletos, coisas do passado. E os CDs, apesar de serem mais jovens e recentes se comparados aos vinis, já estão indo para o mesmo caminho. Hoje opta-se muito pelo digital.

É cada vez mais difícil acharmos pessoas que ainda compram CDs e LPs em lojas. Isso se dá também pela pirataria que, em tese, facilitou muito as coisas -- já que não é necessário nem mais sair de casa para ouvir o último lançamento de seu artista favorito. Basta um computador conectado a uma internet e pronto, você já consegue ouvir o disco antes de ele chegar às lojas. Atualmente, as poucas pessoas que ainda insistem em comprar CDs e LPs são, de modo geral, colecionadoras.

Mas Luiz Calanca, dono da tradicional Baratos Afins, no centro de SP, afirma que "não é o LP que renasceu, e sim o CD que morreu".


Fui conversar com um jovem colecionador para depreender as impressões que ele tem acerca de sua coleção de vinil. Andrey Moral é um adolescente de 24 anos que curte tocar guitarra em sua banda de rock e colecionar discos de vinil. Compra-os até com certa frequência, mas atenção: assim como muitos outros jovens de idade congênere, Andrey nasceu numa época em que o vinil já era considerado coisa do passado. É claro que ele viu o nascimento e a ascensão dos CDs, mas, ainda assim, nem com essa fonte de música ele manteve tanto contato (embora o CD pertença a uma era mais digital, a contenda entre ele e a internet não foi justa; os CDs perderam de lavada e do modo mais indecoroso possível). Mas Andrey tem algumas opiniões formadas. Por exemplo, quando pergunto a ele o porquê de gostar de colecionar LPs, ele me responde. "Gosto porque o vinil traz uma sensação de nostalgia, algo como viver uma época que eu nunca vivi. Fora a qualidade do som, que é superior ao CD, à fita e ao MP3. O tamanho do vinil também chama a atenção. Visualmente falando, o disco de vinil é demais." Então pergunto se ele acha que o LP vai morrer definitivamente algum dia. "Não acho que o LP vá morrer, pois o que é bom sempre fica. Por mais que se pare de produzir, as pessoas nunca deixarão de comprar, colecionar."

Agora, colocando o CD e o disco de vinil no páreo, a luta não é nem mesmo digna de ser levada adiante. Há quem prefira o som do LPs por causa da qualidade ímpar de som que ele entrega... e isso não deixa de ser verdade. Dando uma explicação mais simples possível, o que ocorre é o seguinte: no caso dos CDs, o som é gerado a partir de informações que representam a onda sonora. Essa representação, além de ter uma resolução máxima, sofre de um princípio chamado "curva quadrada". O princípio dessa tal "curva quadrada" torna o áudio do CD "estranho" aos mais audiófilos, já que toda a digitalização pela qual o CD passa transforma sua curva sonora numa espécie de escala. E essa escala tem seus degraus matematicamente menores aos níveis que o ouvido humano pode perceber. Assim, o cálculo é o seguinte: com 16 bits de resolução e 44,1 KHz de amostragem (que é a resolução de um CD comum), a curva mínima descreve praticamente o máximo que o ouvido humano consegue perceber em condições ideais (sem perdas auditivas). As frequências mais agudas, a partir de, aproximadamente, 16 KHz, realmente não são reproduzidas como deveriam, o que faz com que a curva de som fique "quadrada". Em suma, os timbres agudos não são muito bem reproduzidos nos CDs.

Robson Sevilha, dono da loja Mechanix, localizada no primeiro andar da Galeria do Rock, afirma que, em seu estabelecimento, a procura por LPs e CDs ainda é grande. "O público do rock, geralmente, é um público mais fiel", diz ele. "Então mesmo com toda essa tecnologia, os CDs ainda continuarão sendo bastante vendidos". Já os LPs para ele, é outra história! Para ele, há um certo saudosismo quando o assunto é vinil. "Ainda existe aquele pessoal que coleciona vinil de verdade, mas existe também aquele pessoal que só quer ter um vinil por questão de moda ou por achá-lo mais bonito. Em média, um disco novo custa R$ 100 reais, então não é todo mundo que está a fim de desembolsar esse dinheiro nele. Além do mais, muita gente deseja ter vinil, mas nunca acha equipamento e não conhece um lugar onde vende uma agulha, por exemplo; daí quando finalmente encontra um equipamento bom, custa um absurdo."

Fica a seu critério, leitor, formar opinião. Isso tudo é ou não é moda? É ou não é saudosismo? O mercado, seja dos bolachões ou dos CDs, vai mesmo continuar em ascensão? Para essas perguntas, não deixo de dar aqui a minha opinião: eu também sou um grande colecionador. Para mim, é impagável ouvir no toca-discos um "True Stories" do Talking Heads ou um "Texas Flood" do SRV. Que a vida do LP seja abençoada, e, claro, repleta de longos anos.

Em todo o Brasil, a Polysom, localizada na cidade do Rio de Janeiro, é a única fábrica de vinil ainda em atividade no país. E o caminho todo para chegar até aqui foi duro. Puta ralação! Fundada no dia 16 de abril de 1999, época em que se falava muito da virada do milênio, a Polysom encetou suas atividades sob tutela de Nilton Rocha e José Rosa (dois entusiastas por LPs). Menos de dez anos após sua formação, em novembro de 2007, a Polysom já enfrentava problemas em decorrência da escassez de demanda. Já em abril de 2009, a Polysom -- ainda não tão bem das pernas! -- continuava suas operações, dessa vez sob comando de um novo dono. Os tempos eram difíceis.

Hoje a Polysom está legal. Obviamente a empresa não encontra-se submersa em dinheiro, mas já consegue pagar suas contas e, graças ao bom Pai, tocar o barco para frente. Eles ainda prensam vinil ali... e mais, te dão a oportunidade de prensar suas próprias músicas em vinil. Então, se você tem uma banda ou é um artista que gosta de se aventurar na música, entre no site deles e faça um orçamento de quanto ficaria a prensagem do SEU vinil. O investimento, meu amigo, vale, sim, a pena!

Voltando ao amigo Robson Sevilha, ele mostra-se consternado em relação ao impacto da era digital no LP. "Pelo que o pessoal fala, o vinil só está ruim das pernas aqui no Brasil, porque lá na Europa eles continuam comprando muito!"


* Artigo de autoria do jornalista musical Rafael Fioravanti, e publicado pela primeira vez no fanzine "Cultural Revolução", em 2013.



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