top of page

Grace Ambrose, editora da Maximum Rocknroll, dá entrevista exclusiva ao Bolha Musical

A Maximum Rocknroll (abreviada para MRR) é uma revista mensal fundada em 1982, na cidade de San Francisco, nos Estados Unidos. Seu fundador Tim Yohannan sempre se dedicou à ética DIY do movimento e sempre fez questão de deixá-la visivelmente impressa nas páginas da revista. A Maximum Rocknroll é conhecida por focar unicamente no cenário independente, com foco na música punk e hardcore. Apesar da morte de Tim Yohannan em abril de 1998, a Maximum Rocknroll continua na ativa através do trabalho de seus voluntários, amplamente conhecidos como "shitworkers". A vontade do Bolha é de trazer ainda mais detalhes dessa revista para os fãs brasileiros, e, para isso, nosso jornalista musical Rafael Fioravanti foi conversar com Grace Ambrose, a atual editora da Maximum Rocknroll.


Bolha Musical: Grace, como você faz a seleção de notícias que serão publicadas na Maximum Rocknroll? Grace Ambrose: Todo mês a gente tenta equilibrar o conteúdo. Isso significa que a gente quer incluir bandas de diferentes países e gêneros, e, inclusive, bandas que representam identidades raciais e de gênero. Eu sempre digo que se existir uma edição da Maximum Rocknroll onde eu seja fã de todas as bandas, essa edição muito provavelmente será uma edição falida! É importante pra caramba que a MRR represente variadas facetas do que significa ser punk, e não apenas o que é relevante na minha vida. Se a gente puder, a gente gosta de ajudar bandas publicando material em períodos de lançamento de novo disco ou turnê, mas isso não é uma exigência.


Bolha Musical: Existe um grande envolvimento público na construção das matérias publicadas ou isso é feito, em maior parte, pela equipe da MRR? Grace Ambrose: Várias novas pessoas contribuem com a revista todo mês! Uma das melhores coisas da revista, que a separa totalmente de uma grande publicação, é que ela permite que as bandas enviem suas próprias entrevistas (o que significa que a própria banda passa a ter mais controle do modo como eles são apresentados ao mundo). Nós acreditamos na importância da auto-determinação. A editorial de entrevistas é quase toda feita por novas vozes, enquanto as colunas e as reviews já são feitas pelo próprio pessoal da MRR. Inclusive, nós estamos sempre procurando novas vozes para se juntarem a nós, e não importa se a pessoa vai contribuir uma única vez na vida ou se vai contribuir todo os meses. Qualquer um que estiver lendo isso, e estiver curioso para mais informações, deve escrever para mrr@maximumrocknroll.com.


Bolha Musical: Como se dá o processo de produção de uma edição da Maximum Rocknroll (da seleção de matérias è edição final)? Grace Ambrose: É um processo constant de mudança com muita atividade o mês todo. Existem três diferentes coordenadores com diferentes responsabilidades: conteúdo, arquivo e distribuição. E realmente nunca há uma pausa na casa. No momento em que eu envio a revista para a impressão e meu trabalho está feito, a parte da distribuição já começa a ser feita. Existem também bastante coordenadores nas sessões, responsáveis pela coleta de conteúdo (demo, zine, e review de livros) e, atualmente, nós demos início a uma editoria coletiva, que permitirá com que as pessoas escolham e solicitem conteúdo. E como isso é feito? Em sua maioria, vários e vários (centenas e centenas!) de e-mails!


Bolha Musical: Qual a circulação da Maximum Rocknroll em números nos dias de hoje? Grace Ambrose: A gente prensa 4,000 cópias da revista. É claro que o número caiu em relação ao período clássico da revista, mas vale dizer também que o número aumentou em relação ao ano anterior. A gente também vende bastante cópias digitais (mas o número eu não tenho em mãos agora).


Bolha Musical: Qual o tamanho da equipe da Maximum Rocknroll atualmente (com todas as pessoas incluídas)? Grace Ambrose: Existem, ao menos, 100 pessoas envolvidas na produção de cada edição da revista. Alguns deles (críticos, colunistas, revisores, distribuidores) ajudam todos os meses; outros contribuem apenas uma ou duas vezes ao ano. No decorrer do ano, pelo menos 700 punks diferentes de todo o mundo estão envolvidos na produção da Maximum Rocknroll.


Bolha Musical: Grace, na sua opinião, qual a principal missão da Maximum Rocknroll na cena underground? Grace Ambrose: Numa entrevista, Tim Yohannan disse: "Existem duas funções principais na revista. Há a função principal de ajudar as bandas e gravadoras da cena. E outro aspecto que queremos promover é a ideia de que é importante ser inteligente." Eu gostaria de falar que isso ainda é verdade. E eu gostaria também de dizer que a nossa missão e responsabilidade, como a revista punk de facto, é continuar descolonizando a história do punk, continuar concentrando a voz de negros, gays, trans, mulheres punks, enfim. Dar espaço às pessoas que estão fora da história.


Bolha Musical: Existe a participação de estrangeiros (pessoas de outros países) na produção da Maximum Rocknroll atualmente? Grace Ambrose: Yup! Nós temos estrangeiros que são colunistas, que fazem layout e que fazem também toda a parte de revisão. Eu quero instalar um contribuidor internacional em nosso quadro. Se a gente quiser reivindicar o fato de sermos uma revista com cobertura internacional, então devemos ter interesses internacionais representados em nossas sessões!


Bolha Musical: É você quem vai atrás das matérias ou são as matérias que chegam até você? Grace Ambrose: Uma combinação! Eu passo bastante tempo encorajando as bandas que gosto para que elas enviem material aqui para a revista. Ao mesmo tempo, ninguém precisa esperar por um convite. Nós estamos sempre aceitando contribuições de entrevistas e coberturas da cena. Nós não queremos ser gatekeepers (no jornalismo, gatekeeper é a pessoa que define o que será ou não publicado, de acordo com os critérios de noticiabilidade, como valor-notícia, interesse, etc). Se você tem algo a dizer, mande-nos. Nós queremos entrevistas de 2000 a 5000 caracteres com espaço e que venha com uma introdução e bastante fotos em alta resolução. A publicação não é garantida, mas nós tentamos trabalhar com todo mundo para tornar seu material publicável!


Bolha Musical: Existe algum fato curioso a respeito da Maximum Rocknroll que talvez as pessoas não saibam? Grace Ambrose: É assombrado!


Bolha Musical: Como é feita a seleção de músicas que serão tocadas na rádio Maximum Rocknroll? Grace Ambrose: Nós temos um grupo rotativo de djs que escolhe músicas do material novo (que acabou de chegar) e da nossa coleção (coisas que estão preservadas). Todas as músicas que já passaram por uma review entra na coleção e, assim, torna-se apropriada para ser tocado na rádio. Às vezes, escolhemos músicas conferindo programas que já foram gravados também. Recentemente, nós lançamos uma radio remota que dá ênfase a diferentes países – se alguém estiver interessado em gravar um programa aí no Brasil, entre em contato!


Bolha Musical: Toda a coleção da Maximum Rocknroll atualmente encontra-se preservada. Vocês têm algum plano de digitalizar tudo? Grace Ambrose: Em junho, nós disponibilizaremos nosso acervo em PDFs de alta resolução e tudo disponível para download. Nós também estaremos disponibilizando um banco de dados com toda nossa coleção de discos e reviews. No futuro, teremos digitalizado a nossa coleção de fotos e radios gravadas nas décadas de 70 e 80. Nós só não iremos digitalizar as músicas de nosso banco de dados.


Bolha Musical: Grace, fale para mim: o que você sabe a respeito da cena punk/hardcore aqui no Brasil? Grace Ambrose: Eu tenho vários penpals no Brasil que me deixam a par das coisas que estão ocorrendo no país. E claro, eu gosto das bandas clássicas, como Olho Seco, Cólera, Mercenárias, Inocentes, e Ratos de Porão. Eu acho que o Mateus, do Nada Nada, fez um excelente trabalho ao disponibilizar o velho punk Brasileiro para um número maior de pessoas. Eu compraria qualquer coisa que ele lançasse.


Bolha Musical: Há quanto tempo você está trabalhando na Maximum Rocknroll? Grace Ambrose: Há quase dois anos e meio! Desde agosto de 2014.


Bolha Musical: Grace, essa é para fechar: Tim Yohannan era um cara com uma personalidade complexa, mas, ao mesmo tempo, ele era realmente amado no cenário underground. Existe alguma coisa em particular que você queira dizer a respeito dele? Grace Ambrose: Eu sou grata a ele por estabelecer um caminho claro para a revista e por confiar aos coordenadores todo o seu legado após sua morte, quase sem nenhuma regra ou restrição. Várias vezes, algumas pessoas mais velhas que discordam de mim já vieram e perguntaram: "Mas o que é que Tim Yo faria?" Minha resposta? "Ele mandaria você ir se foder!"


Abaixo, você pode conferir a entrevista em inglês (como foi feita originalmente).

"Grace Ambrose, editora da Maximum Rocknroll, dá entrevista exclusiva ao Bolha Musical" por Rafael Fioravanti

If you don't speak Brazilian portuguese, below you can also read this interview in english (as it was originally done). Interview with Grace Ambrose, Maximum Rocknroll's editor


Maximum Rocknroll (often abbreviated as MRR) is a monthly magazine founded in 1982 and based in the city of San Francisco, United States. His founder Tim Yohannan dedicated all his life to the movement's DIY ethic, always making it clear in the pages of the magazine. Maximum Rocknroll is known by focusing only in the alternative scene, covering genres like punk and hardcore music. Beside Tim Yohannan's death in abril 1998, Maximum Rocknroll keep doing its job through the work of its volunteers (the "shitworkers" as they're known). Our desire is to bring more details about this punk magazine to Brazilian's fans and, for this, our music journalist Rafael Fioravanti went to interview Maximum Rocknroll's editor Grace Ambrose.


Bolha Musical: How do you do the selection of news that will be published in the zine? Grace Ambrose: Every month we try to have a balance in the content. That means we want to include bands from different countries and genres, and bands that represent different gender and racial identities. I always say that if there was an issue of MRR where I was a fan of every band in the magazine, it would be a failed issue! It’s incredibly important that the magazine represent many different facets of what it means to be punk, not just what is personally relevant to my life. If we can, we like to help bands by publishing around the time of a new release or tour, but it’s not a requirement.


Bolha Musical: Is there a big public involvement in the construction of the news or is it mostly made by the MRR team? Grace Ambrose: Many new people contribute to the magazine each month! One of the best parts of the magazine, that sets it apart from a corporate publication, is that bands are allowed to submit their own interviews, meaning they can be more in control of the way they are presented to the world. We believe in the importance of self-determination. The interview section is almost always made up of new voices while the columns and review sections generally stay in the MRR family. We are always looking for new voices to join us, whether they contribute once in their life or every month. Anyone reading this who is curious should write to mrr@maximumrocknroll.com for information.


Bolha Musical: How is the whole production process of MRR zine done (from the selection of news to the final edition)? Grace Ambrose: It’s a constantly shifting process with lots of activity across the month. There are three coordinators with different responsibilities: Content, Archive, Distribution, and there's never really a lull at the house. Once I send the magazine to print and my work is done, the distribution cycle kicks into gear. There are lots of section coordinators who are responsible for collecting content (demo, zine, and book reviews) and we've recently started an editorial collective that will help to pick and solicit content. How is it done? Mostly lots and lots (hundreds and hundreds!) of emails!


Bolha Musical: What's the circulation of MRR in numbers nowadays? Grace Ambrose: We print 4,000 copies of the magazine, certainly down in numbers from the heyday, but up a bit from just a year ago. We also sell many digital copies (a number I don't have handy right now).


Bolha Musical: What's the MRR staff in numbers (all persons included)? Grace Ambrose: There are at least 100 people involved in the production of every issue of the magazine. Some of them (reviewers, columnists, proof readers, mail order people) help every month. Others contribute once or twice a year. Over the course of a year, at least 700 different punks from all over the world are involved with the production of the magazine.


Bolha Musical: Grace, in your opinion, what's the MRR's main mission in the underground scene? Grace Ambrose: In an interview Tim Yohannan said "There are two main functions for the magazine. There's the nuts and bolts aspects of the scene like helping bands, labels, records or tapes. The other aspect is that we want to promote the idea that it's OK to be intelligent." I'd say that is still true. I'd also say that our mission and responsibility, as the de facto punk paper of record, is to continue to decolonize the history of punk, to continue to center the voices of black, brown, queer, trans, and female punks, foregrounding people who are normally written out of histories.


Bolha Musical: Is there any participation of foreigners (people from other countries) in the zine's production? Grace Ambrose: Yup! We have foreigners who are columnists, do layouts, and do proofreading. I want to install an international contributor on our board. If we claim to be an international magazine, we should have international interests represented at our meetings!


Bolha Musical: Do you go after the news or does the news comes to you? Grace Ambrose: A combination! I spend a lot of time encouraging bands I am excited about to submit to the magazine. At the same time, no one needs to wait for an invitation. We are always accepting submissions of interviews and scene reports. We don't want to be gatekeepers! If you have something to say, send it over. We want interviews to be 2000-5000 words long, and come with an introduction and lots of high-res pictures. Publication not guaranteed but we try to work with everyone to get their interviews into print shape!


Bolha Musical: Is there any curious fact about MRR that people may doesn't know? Grace Ambrose: It's haunted!


Bolha Musical: How is the selection of music done to play on MRR radio? Grace Ambrose: We have a rotating group of djs who choose from the new arrivals and the collection. Everything that gets reviewed enters the collection and is eligible for play on the radio. Sometimes visiting bands record shows as well. We recently launched remote radio shows that highlight scenes from different countries – if anyone is interested in recording a Brazil show, get in touch!


Bolha Musical: All MRR collection is preserved. Do you guys have any plan to digitize everything? Grace Ambrose: In June we will publish free downloadable and searchable high quality PDFs of every issue we've ever published. We'll also be launching a searchable database of our record collection and reviews. The future will see our photo collection and the old radio shows from the 70s and 80s digitized as well. We will not be digitizing the music from the record collection.


Bolha Musical: Grace, tell me: what do you know about punk/hardcore scene in Brazil? Grace Ambrose: I have several Brazilian punk penpals who keep me up-to-date on what is happening there and of course I love the classics like Olho Seco, Cólera, Mercenárias, Inocentes, and Ratos de Porão. I think Mateus from Nada Nada has done a great job making old Brazilian punk artifacts visible to the wider world and I will buy any record he puts out.


Bolha Musical: For how long have you been working on MRR? Grace Ambrose: Two and half years almost! Since August 2014.


Bolha Musical: Grace, this is the last one: Tim Yohannan was a man with a complex personality, but, at the same time, he was truly loved. Is there any particular fact that you really need to say about him? Grace Ambrose: I'm grateful to him for setting forth a clear path for the magazing and for having the confidence to entrust his legacy to coordinators that followed in his death, with hardly any rules and restrictions. There are lots of times when old men who disagree with me ask "What Would Tim Yo Do?" My answer? "He'd tell you to fuck off!"


"Grace Ambrose, editora da Maximum Rocknroll, dá entrevista exclusiva ao Bolha Musical" por Rafael Fioravanti | Bolha Musical

Acima, duas capas da revista Maximum Rocknroll com bandas brasileiras na edição. Na primeira foto, os Ratos de Porão; na segunda, destaque para a banda Mercenárias. Ambas daqui de São Paulo.




bottom of page