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Review: Hammerhead Blues - Caravan of Light (2017)

Nota: ★★★★☆


São poucas bandas que atualmente chamam a atenção para uma coisa de nova no cenário underground. Não me refiro ao termo “novo” no sentido de me referir a algo nunca antes criado, mas no sentido de me referir a um artista que se destaca em determinado ambiente em razão da ausência de outros similares a ele. Nesse sentido, ouvir “Caravan of Light” (Abraxas Records), o primeiro disco da Hammerhead Blues, foi uma grande surpresa.

O disco é forte e, mais, possui em sua essência uma personalidade forte. Os traços característicos da obra permitem com que ela se diferencie com grande facilidade em meio a tantas outras de caráter parecido senão similar. Desde o começo do álbum (quando a primeira faixa estoura no alto falante do som com riffs memoráveis de guitarra que nos remetem àquele blues progressivo), percebemos que tudo é muito bem arranjado e muito bem ensaiado. O disco começa forte e mantém esse ritmo sem grande dificuldade.

Embora "Caravan of Light" caminhe numa linha tênue entre Stevie Ray Vaughan e Black Sabbath, “Hero”, a faixa de abertura, é um instrumental de quatro minutos de duração cujos riffs nos remetem às criações de um Gary Rossington, o guitarrista de Jacksonville que, ao lado de sua memorável banda, Lynyrd Skynyrd, revolucionou o southern rock, elevando o gênero a patamares pouquíssimos explorados a priori dele.

“Vultures” é a segunda faixa do disco. É uma faixa que, embora mantenha viva sua essência alternativa, não deixa de flertar com o hard rock. Como o disco começa com um instrumental, cabe a "Vultures" nos apresentar ao vocalista (inspirado, mesmo que inconscientemente, na pegada de Beck Boggert & Appice). Achei legal o estilo de voz, o modo de cantar e os timbres; casou bem com o estilo. Então esta segunda faixa junta-se com “Morning Breeze”, a terceira, de maneira quase imperceptível, com um solo e marcação de tempo na cúpula do prato de condução. “Morning Breeze”, em seu ritmo cadenciado que acelera aos poucos, traz vocais harmoniosos e solos simpáticos que nos permitem uma ampla gama de sensações, até em razão da mudança de andamento.

A quarta faixa do disco, “Rat”, com seus três minutos de duração – a mais curta do disco – perde-se nas nuances do southern rock com seu ritmo forte e galopante. E assim como sua sucessora, “Lion Queen”, a catchy “Hammerhead Blues”, faixa que dá nome à banda, é o que há de mais bluesístico.

O disco “Caravan of Light” foi oficialmente lançado no dia 20 de abril deste ano, e, muito rapidamente, foi parar também nas principais plataformas digitais de streaming. A banda paulista Hammerhead Blues foi criada em 2014 por Otavio Cintra (vocal/baixo), Luiz Cardim (guitarra) e Willian Paiva (bateria). A gravação desse álbum, o primeiro full lenght do grupo (que, antes, só haviam se aventurado em um EP), ocorreu entre os meses de novembro e dezembro de 2016, no Studio Pub, em Santo André-SP. A produção ficou a cargo da banda, em parceria com o produtor Nobru Bueno.

E eles estão, sempre que podem, pelos palcos. Apresentaram-se, por exemplo, no 15º Aldeia Rock, um festival que ocorre em Aldeia Velha, no Rio de Janeiro, e que sempre conta com várias bandas alternativas em seu line-up. Na ocasião, logo após um caloroso show, a banda acabou sendo muito elogiada. Além disso, a banda também foi responsável em abrir um show para os alemães do Samsara Blues Experiment, em São Paulo, em março. Deram conta do recado. Novamente.

Em meio a tanta porcaria que parece emergir no cenário underground, o trio paulista, pode-se dizer, é uma alternativa à mesmice. A banda é forte, tem característica, e, sim, merece uma chance.


O que me agrada também é que "Caravan of Light” se trata tão apenas do primeiro disco da banda. E tal como sabemos, as bandas sempre tendem a evoluir na transição do primeiro para o segundo álbum. Se faz justo, assim, que aguardemos por um segundo full lenght.

Embora a oitava faixa do disco, “Desert Wind”, com sua melodia de cinco minutos, não chame tanto a atenção, a sétima faixa do álbum, “St James Infirmary”, faz justiça e vem a ser, disparado, uma das faixas mais significativas do disco. “St James Infirmary”, com sua pegada lenta marcada por uma guitarra suave e um baixo metódico, mostra a desenvoltura legal do grupo em criar melodias no mais legítimo estilo de começo da década de 80.

Não cabe a mim, porém, colocar a Hammerhead Blues vis-à-vis com nenhuma outra banda, até porque tal comparação, além de injusta, se prova altamente pessoal. Se 100 pessoas ouvirem este disco, teríamos, com certeza, 100 distintas concepções e 100 distintas interpretações. Mas posso dizer que, na atualidade da cena paulista, a Hammerhead Blues é uma das coisas boas que vieram a acontecer no gênero.

O único ponto que levanto em relação ao álbum, é que, sim, seria muito interessante ouvir a banda gravar alguma coisa em português. O inglês, embora se mostre mais adaptável à composição, é completamente diferente das nuances da língua portuguesa no quesito compor e, por isso, julgo interessante colocá-los à prova. Gostaria de saber como a banda se sairia compondo em português, criando tais elementos sonoros sem desvencilhar-se do charme “bluesístico americano”. Por outro lado, eu tenho ciência de que uma faixa em português não caberia neste disco, até porque não combinaria nem um pouco. Mas a sugestão que deixo aqui é para um futuro EP, ou, quem sabe, até mesmo para um futuro álbum. Não tenhamos pressa, mas também não percamos tempo.


Para ouvir o disco nas principais plataformas de streaming, clique aqui.

"Review: Hammerhead Blues - Caravan of Light (2017)" por Rafael Fioravanti | Bolha Musical

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