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Grande reportagem: A Questão Político-Ideológica no Punk (Parte 1 de 4)

Por que decidi escrever esta grande reportagem? Olá, eu sou Rafael Fioravanti, jornalista musical. Bom, antes de tudo, precisamos dizer que existe muita falta de informação no rock and roll do país. O rock, ao contrário do que muitos pensam, não carece de bandas (basta você procurar conhecer o underground), não carece de qualidade musical, não carece de bons músicos e, tanto em termos musicais quanto em termos de produção, não deve nada à música gringa; absolutamente nada! Tudo bem, precisamos ter em mente que faltam mais oportunidades àqueles que estão começando (até porque é a falta de oportunidades que reduz drasticamente o estímulo dos iniciantes), mas isso é outra conversa. A falta de oportunidade nada mais é do que um fruto da falta de conhecimento.


Aquele velho (e ludibriado) dito popular que diz que “música é coisa de vagabundo” e que “não dá dinheiro” é a prova disso. O que eu quero dizer é que, infelizmente, essa falta de erudição perpetua dentro da música brasileira, se estendendo aos músicos, aos fãs que compram os produtos, e àqueles com quem os músicos se relacionam e trabalham num conceito profissional.


Dito isso, não é difícil imaginar o porquê de tantos equívocos dentro da música. Isso é falta de erudição. O dito popular que mencionei no parágrafo acima (e que me recuso a repetir, dado seu extremo mal gosto) é apenas a ponta do iceberg. Devemos também ter em mente que muitos conceitos errôneos já se fazem endêmicos ao povo, já são enraizados à crendice popular e apenas continuam sendo alimentados. Não me desvirtuarei abrindo o leque e despejando aqui um monte de exemplos. O único exemplo que citarei, e que tem relação com o conteúdo desta grande reportagem que vocês estão lendo, é o clássico exemplo de briga entre punks e skinheads.


No punk rock (gênero deveras incompreendido e que nada mais é do que uma vertente do rock and roll), todos conhecem essa briga. Isso é famoso entre os fãs do punk rock. É mais ou menos um Boca Juniors e River Plate na Argentina, ou um Fla-Flu no Rio de Janeiro. As brigas entre punks e skinheads são frequentes, geralmente acontecem nas madrugadas das grandes metrópoles mundo afora, e, no passar dos anos, vêm fazendo cada vez mais vítimas. Se ocorre uma briga hoje, amanhã estaremos enterrando alguém. As brigas são violentas, são conhecidas (muitas vezes o pessoal entra no movimento só para brigar) e também irracionais. E o porquê, o motivo, a razão dessa irracionabilidade é algo que eu trato nesta grande reportagem. Muitos brigam, muitos optam pela violência, muitos vomitam palavras de preconceito e intolerância uns aos outros, mas poucos – pouquíssimos – tiveram o interesse de pegar um livro e depreender a origem de ambos os movimentos, depreender suas raízes. Houve uma desvirtuação da história do movimento e uma das grandes culpadas disso é a grande mídia (são os canais televisivos, são aqueles que insistem em fazer o velho jornalismo marrom). Eu fico temeroso em dizer isso, até pelo fato de eu ser um jornalista, mas tenho o espírito calmo e a cabeça bastante tranquila em saber que estou dizendo a coisa certa. E mais, em saber que, ao escrever esta grande reportagem, estou fazendo a coisa certa, disseminando erudição e informações genuínas àqueles que se interessam pelo mundo dos skinheads e punks.


Na música “Tom & Jerry”, a banda Replicantes, camaradas velhos no cenário punk rock do Brasil, imortalizou um verso que eu considero não apenas um dos mais inteligentes e simpáticos do punk rock nacional, mas também um grande exemplo que deve ser seguido por aqueles que convivem no underground brasileiro: “Seja punk, mas não seja burro.” E é nisso em que acredito.


Bom, para quem ainda não entendeu, esta grande reportagem está sendo escrita por mim para fazer justiça à história do movimento.


Introdução: Mais algumas palavras. Se, em 1977, os quatro garotos ingleses e delinquentes dos Sex Pistols bradaram em alto e bom tom a famosa máxima “Deus Salve a Rainha”, hoje, em pleno século XXI, ano de 2015, sinto-me no mais reconfortante deleite em gritar “Deus salve o rock and roll”. E qual a diferença? É simples: não há diferença. Assim como o rock and roll, a música punk, sua filha bastarda e ilegítima, conquistou seu espaço no passar dos anos, no passar das décadas, das gerações. E assim como o rock, o punk também deu à luz.

A razão da existência da música punk, se você não sabe, saberá nas páginas que se seguem. A razão de sua existência foi uma mera necessidade, foi o desabafo de uma geração que, àquela altura, pasmem, se enxergava sem voz, e pior, sem futuro. Mas não ouse, porém, querer datar o nascimento desse filho ilegítimo do rock. O seu nascimento ocorreu no século XX, é claro, no borbulhar de alguma cidade, agora o ano e o local exato isso ninguém saberá nunca. Uns falam que a música punk surgiu nos Estados Unidos, na Grande Maçã do começo da década de 70; outros dizem que foi no interior dos Estados Unidos; outros preferem a versão de que o nascimento do punk se deu nos cantos cinéreos da cidade de Londres; e outros ainda não economizam ousadia em dizer que o punk nasceu em Lima, capital do Peru. Percebe-se que a coisa toda fica interessante até mesmo aí...

No começo do mês passado, 10 de agosto, num artigo on-line publicado por Nash Jenkins na Time, cientistas sul-africanos disseram que uma das mais importantes descobertas dos últimos tempos, ao menos em questões culturais, foram vestígios de cannabis achados no túmulo do famoso escritor William Shakespeare. A tecnologia forense não mente, amigos. De duas, uma: ou os cachimbos encontrados no túmulo do famoso escritor inglês não pertencem a ele – o que, convenhamos, é uma hipótese difícil de ser considerada – ou algumas de suas maiores obras (Hamlet, por exemplo, ou Titus Andronicus) foram escritas sob influência da droga responsável por conflagrar o caloroso debate da descriminalização e legalização das drogas. E é nessa conjectura que eu acredito. Mas também nada disso importa. O que passou, passou; e a história hoje está aí, à nossa disposição. O que eu quero reforçar aqui é que todo assunto tem os seus mistérios. E com o punk não é diferente.

Se o punk nasceu em Lima, em Londres ou em Nova Iorque, nunca saberemos. A única certeza que temos, e que podemos encher a boca para afirmar de cátedra na mais genuína convicção, é que o filho ilegítimo do rock incendiou o mundo nas décadas de 70 e 80, e que esse fogo-fátuo continua vivo até os dias de hoje.


“Oh, put away your good words and your bad words. Spit out your words like stones! Come here! Come here! Come eat my pleasant fruits.” – Anne Sexton, “From the Garden”.

“Eu amo o rock and roll em sua forma mais básica, crua e paleoliticamente rudimentar. Isso mesmo! Eu amo o punk rock e não tenho que me desculpar a ninguém. (...) E mais, eu não dou a mínima se alguém consegue tocar o seu instrumento ou não, desde que a pessoa tenha alguma coisa a dizer e o faça de uma maneira excitante. Porque, para mim, música é qualquer tipo de som feito por um ser-humano e que tem o poder de comover o outro.” – “Free Jazz / Punk rock”, artigo escrito por Lester Bangs, e publicado no final de 1979, na extinta Musician Magazine



A Questão Político-Ideológica no Punk (Parte 1 de 4): Nos Estados Unidos, os anos 50 foram uma década de efervescência cultural intensa. A sociedade estadunidense ainda mostrava-se conservadora, e todo esse conservadorismo só viria a diminuir na metade dos anos 60, quando eles estariam mais abertos às mudanças e transformações culturais. A sociedade estadunidense dos anos 50, mais do que qualquer outra, soube aceitar e reconhecer de modo consciente as várias mudanças que vieram para o bem.

Na época, a NBC, CBS e ABC (surgidas respectivamente em 1926, 1927 e 1943, com o intuito de massificar o entretenimento) eram os três únicos canais televisivos existentes e a programação era deveras sofrível, com muitos programas de culinária, lutas, desenhos animados, shows de humor, e, principalmente, muita ênfase em programações locais. Com uma programação limitada e ainda amadora, o jeito encontrado na época para amealhar público era apostar em apresentadores. O frontman necessitava de ser desenvolto, prolixo, capaz de angariar a atenção do público do começo ao fim. E na sociedade estadunidense dos anos 50, ninguém cumpriu esse papel tão bem quanto Ed Sullivan.

Para ser mais específico, o The Ed Sullivan Show só despontou em 1948, com iniciativa do produtor executivo Marlo Lewis, indo ao ar em 20 de junho desse mesmo ano. Após 24 temporadas e 1,068 episódios, o The Ed Sullivan Show se tornou um dos programas mais respeitados de toda a história da televisão estadunidense.

Enquanto a televisão muito evoluía, a música pegou carona nessa onda e passou a evoluir tão rapidamente quanto os aparelhos televisivos. Que fique bem claro, desse momento em diante: os estadunidenses muito devem aos negros. Muito mesmo! O blues estadunidense, tal como hoje o conhecemos, através da voz marcante de Janis Joplin, através da guitarra de Stevie Ray Vaughan ou através dos arranjos cheios de experimentações da banda Canned Heat, é uma evolução daquilo que conhecemos como work songs.


Os work songs eram cânticos religiosos que falavam da rotina dos escravos negros e que eles cantarolavam a cappella, enquanto trabalhavam para ricos senhores brancos nas lavouras e plantações das zonas rurais do sul dos Estados Unidos. Eram cânticos religiosos carregados de langor e tristeza, comum no final do século XIX e começo do século XX. Esses work songs deram origem ao blues, que, grossamente falando, nada mais é do que uma versão musicalizada desses cânticos. Grandes exemplos disso são as canções de músicos como Big Mama Thornton, Bessie Smith, Leadbelly, Johnny Ace, Elizabeth Cotten (que só ficou mundialmente conhecida na velhice, por volta dos seus 60 anos de idade, já que antes disso ela só tocava violão na igreja), e muitos outros.

Já a respeito do blues tal como hoje o conhecemos, a questão é simples: da segunda metade dos anos 60 em diante, o blues passou por uma transformação que não se remete necessariamente ao som, mas às letras, já que não convém ao blues atual (embora ele ainda traga a melancolia como principal temática), falar sobre trabalho escravo, abusivo e não assalariado. Temos de ter em mente que os tempos mudaram e que o cenário histórico atualmente é outro. A tristeza tomou novas proporções dentro de um contexto atual, visto que, nos dias de hoje, trabalho escravo e não assalariado é crime, segundo o artigo 149 do Código Penal. Com essa adequação, o blues atual passou a ter foco, por exemplo, no fim de uma relação amorosa, na perda de um ente próximo, em tragédias decorrentes de ações da natureza (como enchentes, terremotos e tornados). Temas ainda tristes, claro, só que mais “leves” se comparados aos temas daquela época.

Alan Lomax foi um grande estudioso de música. Ele chegou a ser músico, tendo sido, segundo muitos, um talentoso violonista. Porém, como músico, ele não teve reconhecimento algum. Tampouco teve o privilégio de desfrutar de seu trabalho. Mas isso não o abalou. Lomax obteve sucesso e reconhecimento de outra forma: através de suas documentações históricas. Seus registros em vídeo são hoje fontes importantíssimas para que possamos nos inteirar do lado artístico e cultural das pessoas daquela época (pessoas que, embora se mostrassem detentoras de um grande talento, eram simplesmente deixadas de lado pela sociedade estadunidense da época por conta de questões raciais). Muitos registros feitos por Lomax, inclusive, estão hoje perpetuados na Biblioteca do Congresso, em Washington, nos Estados Unidos.

Alan Lomax viajava pelos Estados Unidos (principalmente pelas áreas mais pobres de cidades do sul do país, nos estados do Alabama e Mississippi), com sua inseparável equipe de apoio e câmeras nas mãos, documentando os veteranos do blues até então desconhecidos. Entre seus registros mais conhecidos estão os de Lucius Smith; Jack Owens e Bud Spires; Clyde Maxwell; Sam Chatmon; Tommy Jarrell; Belton Sutherland; registros dos grupos de dança de Sea Island, na Geórgia, datados de 1962; e cânticos da St. James Missionary, uma igreja batista de Canton, em 1978, que nada mais são do que os autênticos work songs.

A tristeza e as dificuldades sempre estiveram associadas à vida difícil dos negros (e por consequência ao blues), que em plenos anos 50 e 60, ainda eram vítimas de segregações raciais. O preconceito não vinha apenas de grupos extremistas, como a Ku Klux Klan, mas também de grande parcela da sociedade estadunidense, que viam os negros como raças inferiores. O ataque terrorista à Igreja Batista do Alabama, em 15 de setembro de 1963, que matou quatro garotas negras e feriu gravemente outras 22, foi o estopim para que surgissem mais manifestações por direitos iguais nos Estados Unidos. O curioso é que, semanas antes desse atentado, o ativista Martin Luther King Jr havia feito seu célebre discurso (conhecido como “I Have a Dream”) para um desmesurado oceano de pessoas, diante do Lincoln Memorial.

Esses ataques racistas, engendrados, na maior parte das vezes, por homens filiados à Ku Klux Klan, pareciam não chegar ao fim. Foi só no ano de 1968, uma semana após o assassinato do ativista Martin Luther King Jr, que o então presidente dos Estados Unidos, Lyndon Baines Johnson, aprovou, em caráter de urgência, o “Fair Housing Act”. Embora o “Fair Housing Act” visasse a proteção das propriedades privadas, e não o racismo propriamente dito, ele funcionou como um pontapé inicial em toda essa questão de igualdade de direitos.

Tendo todo esse episódio em mente, não é difícil imaginar o porquê de muitos registros feitos por Alan Lomax mostrarem músicos negros se apresentando em circuitos fechados – como em suas casas nas áreas rurais do país, ao lado de familiares, em rodas de amigos, e, principalmente, nos corais das igrejas batistas do sul dos Estados Unidos. Por sinal, o coral dessas igrejas era um ponto forte que chegou a render muitos bons frutos. Big Mama Thornton, a lenda do blues antigo, e Janis Joplin, a voz símbolo do blues numa era, digamos, mais atual, são duas mulheres de espírito forte e voz impecável que iniciaram suas carreiras em corais de igreja.

A cantora Janis Joplin, em termos de essência lírica (mas não instrumental), é a única cantora pós-1955 que podemos citar como blues moderno, mas derivado diretamente da era dos work songs.

Fazendo, ainda nos anos 50, uma fusão do blues com a música jazz, obtivemos aquilo que hoje chamamos de rock and roll. Até hoje, as origens do jazz são incertas. Alguns dizem que ele surgiu na África; outros, na Europa. De qualquer forma, é sabido que há uma mistura tanto do sangue africano quanto do europeu nas nuances do jazz, já que a percussão é endêmica à música negra, enquanto que os instrumentos de sopro e corda tiveram origem na Europa. Apesar de todas essas incertezas referentes ao jazz – incertezas que, se colocarmos no papel, veremos que não são poucas! – sabemos que ele se procriou primeiramente nos arredores de Nova Orleans, lá pelo começo do século XX, e só depois na própria Nova Orleans.

Falando do jazz, torna-se quase impossível não tecer também comentários à música country. A fusão do country com o jazz, ainda no começo do século XX, deu origem a um subgênero do jazz que viria a ser conhecido como western swing (uma música dançante e com o tempo mais elevado). Tal gênero, ainda em seus primórdios, muito contribuiu para o uso das guitarras elétricas. Bob Wills, um célebre músico da era do western swing, foi um dos primeiros a utilizar guitarra elétrica nas composições de sua banda, lá pelo final da década de 30. Pode-se concluir, então, que, enquanto o jazz e o blues deram origem às mais importantes raízes do rock, a música country contribuía com a popularização da guitarra elétrica.

Agora, afirmar que o rock and roll se originou do rockabilly, como muitos costumam fazê-lo, é um conceito errôneo, uma vez que o rockabilly é uma pequena fase do rock and roll dos anos 60, e não uma vertente independente que inspirou o nascimento do rock. Isso deve ser deixado claro desde já.

Com o nascimento do rock and roll, a partir da fusão essencial do jazz com o blues (e uma pitada da música country), as bandas de rock passaram a se propagar. A guitarra tornou-se o grande símbolo do rock and roll; a bateria mostrou-se indispensável para a marcação do tempo que, ao contrário de tudo que já havia sido lançado antes, era responsável por compassos mais acelerados e dançantes; o baixo, por ser rítmico, surgiu com o objetivo primordial de apaziguar a harmonia e gerar os graves. Dizem as más línguas que pelo simples fato de o rock ter bebido muito na fonte do jazz, e principalmente do blues, o baixo tem a função de fornecer os graves da mesma forma que os homens faziam nos corais da igreja no começo do século XX, em contraste com a voz líder das mulheres.

Com as bandas de rock que começavam a aparecer na década de 50, sua popularidade foi se tornando cada vez maior, não só graças ao rádio, mas graças também à televisão. Em 1955, metade dos lares estadunidenses já possuía uma televisão preto-e-branco. O país evoluía e, assim, informação e entretenimento chegavam rápido.

Nesse final de década, os maiores nomes do rock and roll nos Estados Unidos eram Bo Diddley, Buddy Holly, Little Richard, Chuck Berry, e claro, Elvis Presley. Por sinal, Elvis era muito influenciado pelo blues dos negros de seu país e não deixava os cânticos religiosos de lado em seu repertório. Mesmo com um repertório nervoso para a época, que foi o que lhe rendeu a alcunha de “o rei do rock”, Elvis chegou a gravar várias canções religiosas, como, por exemplo, “Amazing Grace” (talvez o mais famoso hino protestante dos Estados Unidos, publicado em 1779); “How Great Thou Art”, “Take My Hand, Precious Lord”, “There’ll be Peace in the Valley” (que ele cantou ao vivo em 1957 no programa do Ed Sullivan), “I Believe in the Man in the Sky”, “You Will Never Walk Alone”, “Where Could I Go But to The Lord”, “Who Am I”, e muitas outras.

Edward Vincent Sullivan, um ex-lutador de boxe de 1.71 metro de altura e nova-iorquino nascido e criado, começou seu trabalho de jornalista num tabloide de vida curta chamado “New York Evening Graphic”. O tabloide, as sim como muitos outros projetos, foi criado por um esportista de espírito ativo e empreendedor chamado Bernarr Macfadden. O sujeito era, de fato, criador de um império midiático que na época consistia em jornais e revistas semanais de interesse geral, como a “Liberty” (que durou 24 anos e cujo slogan era “feito para todos os públicos”); a “True Detective” (especializada em crimes e que encetou suas publicações em 1924, tendo durado 47 anos); a “True Story” (revista de formato narrativo que contava com uma distribuição de 300,000 exemplares em 1923 e, seis anos depois, já alavancava sua distribuição para quase dois milhões de exemplares); entre outras.

Na “New York Evening Graphic”, Edward Sullivan (que tornou-se posteriormente Ed Sullivan) trabalhou no caderno de esportes. Algum tempo depois, com a auto-demissão de um jornalista chamado Walter Winchell, Sullivan passou a assumir a posição desse antigo companheiro de trabalho, tornando-se colunista de teatro, com sua coluna “Little Old New York”.

Naquele final da década de 50, o apresentador Ed Sullivan, já há uma década no ar, gozava de certa independência para levar ao seu programa quem quer que ele quisesse. Por isso, ele colaborou muito para que o rock and roll se propagasse. Além do mais, o programa possuía credibilidade para criar tendências e uma aparição no The Ed Sullivan Show (não só de artistas de rock, mas também de pequenas peças teatrais, comédias stand-up e dançarinos) era sinônimo de qualidade ímpar e inquestionável.

Dos maiores roqueiros daquela década, que citei logo acima, o primeiro a se apresentar no The Ed Sullivan Show foi Bo Diddley. Sua apresentação aconteceu no dia 20 de novembro de 1955, com um Bo Diddley de 26 anos, usando cabelo curto e ralo, metido num terno um pouco grande para o seu tamanho. Ele veio acompanhado de três integrantes de sua banda: um baterista, um baixista e um percussionista tocando maracas. O detalhe é que Ed Sullivan não gostou da apresentação de Bo Diddley e o baniu de futuras aparições em seu programa por um simples motivo: no camarim, Sullivan pedira a Diddley que fizesse uma versão cover de “Sixteen Tons” do cantor Tennessee Ernie Ford. Mas Bo Diddley não obedeceu. Como em março daquele mesmo ano, o guitarrista havia gravado sua primeira música autoral (na Universal Recording Studios, em Chicago), ele simplesmente optou por tocá-la. Sete meses antes, em abril de 1955, quando a música foi lançada, BOOM!, foi um sucesso estrondoso, tendo ficado 18 semanas nas paradas de R&B da época (sendo duas na primeira posição).

O segundo a se apresentar no The Ed Sullivan Show foi Elvis Presley, o rei do rock. Em toda sua carreira, Elvis fez três aparições no programa de Ed Sullivan. Todas num espaço de tempo de apenas três meses. A primeira foi no dia nove de setembro de 1956; a segunda ocorreu quarenta e nove dias depois, em 28 de outubro; e a terceira aconteceu em seis de janeiro de 1957.

O terceiro a se apresentar no The Ed Sullivan Show foi o guitarrista Buddy Holly. Sua apresentação aconteceu em 26 de janeiro de 1958, com a banda toda metida em uma impecável roupa de garçom: terno preto e gravata borboleta. Foi esta a apresentação mais famosa de todas, mas não a primeira, sendo que ele já havia despontado no programa em primeiro de dezembro de 1957 (quatro dias após o lançamento do álbum de estreia da banda, após sete longos meses enfiados dentro do estúdio). Em ambas apresentações, Buddy Holly subiu ao palco de Ed Sullivan acompanhado pelo baixista Joe Benson Mauldin Junior, pelo baterista Jerry Allison, e pelo também guitarrista Niki Sullivan.

Embora Chuck Berry e Little Richard também gozassem de boa fama e sucesso àquela altura, eles nunca tiveram a chance de se apresentar no The Ed Sullivan Show. Porém isso não impediu que ambos fossem homenageados no programa do ex-boxeador nova-iorquino, quando artistas conseguintes compareceram ao programa e prestaram suas homenagens a eles perante todos os Estados Unidos.

A televisão não era a única fonte de notícia e entretenimento dos estadunidenses, embora vivenciasse sua grande popularização. Tínhamos também o rádio. Nas ondas sonoras, o maior responsável pela popularização do rock and roll nos Estados Unidos foi Alan Freed. E mais, foi ele quem batizou aquele recém-nascido gênero musical de “rock and roll”. O porquê do nome, sinceramente, ninguém sabe ao certo.

Muito conhecido no norte dos Estados Unidos, ali pela região de Cleveland, Estado de Ohio, por seu prestigioso trabalho na rádio, Alan Freed mudou-se de Cleveland para a cidade de Nova Iorque no ano de 1954. Foi em Nova Iorque onde Freed erigiu ainda mais fama e permaneceu até sua morte, em janeiro de 1965, em decorrência de seu alcoolismo.

Agora, abrindo o leque, devemos nos lembrar que o rock não se encontrava unicamente em território estadunidense. Na Inglaterra, o negócio também estava crescendo a todo vapor. No começo dos anos 60, uma grande enxurrada de bandas britânicas surgiu. Foi, para os britânicos, um período não apenas de amadurecimento da música, mas também de redescoberta. Junto a essa transformação cultural, surgiram, na Inglaterra os mods, uma subcultura marcada pelo visual modernista e pelas lambretas (basta assistirmos aos filmes “Tommy” e “Quadrophenia”, do The Who, para que vejamos o que é um mod). E pouco tempo depois, numa afronta à busca pela perfeição imposta pelos mods, foi a vez do surgimento da subcultura rocker, que buscava se amotinar energicamente, através de um visual mais, entre aspas, “agressivo” (marcado por topete, calça jeans, jaqueta de couro e tatuagem). Com os rockers, nos anos 60, entrou em voga o rockabilly.

No ano de 1960, surgiu em Liverpool, noroeste da Inglaterra, a banda que viria a alterar o conceito de rock estabelecido nos Estados Unidos dos anos 50. John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr, os quatro garotos de Liverpool, bastante influenciados pelos músicos estadunidenses Buddy Holly e Chuck Berry, sentiram vontade de fazer aquilo que seus ídolos já vinham fazendo... só que eles queriam fazê-lo de maneira mais pesada. O lançamento do primeiro álbum dos Beatles, em 1963, foi o estopim para uma febre que viria a ser conhecida como “A Invasão Britânica”.

As jovens da época adoravam o visual impecável dos Beatles e passaram a ser protagonistas de um verdadeiro êxtase, coisa que não se via em lugar algum desde então. Nos palcos, os quatro garotos de Liverpool energizavam as garotas com suas músicas românticas, e elas, em resposta, se descabelavam e gritavam a plenos pulmões; fora dele, eram perseguidos por fãs incontroladas. Foi também sucesso de vendas. Isso foi a Beatlemania.

E em resposta à impecabilidade dos Beatles, quase que numa espécie de confronto, surgiu, na nebulosa Londres de 1962, os Rolling Stones. Cinco jovens mal encarados, desleixados, drogados e nada púdicos. Por mais incrível que pareça, o duelo entre Beatles e Rolling Stones não se limitou apenas àquela década. Dura até os dias de hoje, ao menos por parte dos Rolling Stones, que fazem questão de manter a chama de egos crepitando. Veja bem: numa entrevista à revista Esquire, publicada em cinco de agosto de 2015, o guitarrista Keith Richards afirmou que “o álbum ‘Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band’ é uma porcaria”. A entrevista foi feita no Sanford Boardroom, em Washington Duke Inn, Durham, Estado da Carolina do Norte. As críticas ao quarteto de Liverpool foram deveras substanciais. “Os Beatles soavam legal quando eles eram os Beatles, mas as músicas deles não têm raízes. Eu acho que eles só queriam saber de levar a coisa, entende? Se você fosse os Beatles nos anos 60, você também só ia querer saber de levar a coisa. Você esquece o que é que quer fazer.” E o sempiterno guitarrista dos Rolling Stones continua. “Você comentou comigo do ‘Sgt Pepper’. Muitas pessoas acham que se trata de um excelente álbum, eu já o considero um lixo.”

Os Rolling Stones talvez tenham sido a única banda criada como forma de resposta à outra que acabou de fato dando certo (foi exatamente o que o empresário londrino Malcolm McLaren, na década seguinte, tentaria fazer em resposta aos Ramones, ao criar os Sex Pistols).

Em ataque ao disco dos Beatles, que havia saído um ano antes, os Rolling Stones lançaram seu álbum de estreia em abril de 1964. Com 12 faixas, pouco mais de meia hora de duração e lançado pela Decca Records, o álbum também mostrava muito bem o apreço que a banda inglesa tinha pelo rock and roll estadunidense dos anos 50.

Comparando: o primeiro álbum dos Beatles foi batizado de “Please Please Me” (1963) e trazia 14 faixas, sendo que nenhuma ultrapassava os três minutos de duração. O primeiro álbum dos Rolling Stones foi alcunhado com o próprio nome da banda, em 1964, contava com 13 faixas e apenas uma excedia consideravelmente os três minutos de duração. Ambos os álbuns traziam consigo guitarras simples e marcantes, o ritmo acelerado apresentado pelas bandas estadunidenses dos anos 50, e claro, traziam também aquele grito adolescente. A fúria.

Assim, a Invasão Britânica cruzou o oceano, rumo aos Estados Unidos. Os Beatles se apresentariam três vezes no The Ed Sullivan Show; os Rolling Stones, seis.


É inegável que o ano de 1962 foi o último em que o rock and roll ainda contava com aqueles mesmos ingredientes dos anos 50, de quando fora criado. O rock passou por uma transformação já de 1963 em diante. Aí as bandas não prezavam única e exclusivamente pela fúria da geração, mas de fato em se fazer música. Influenciados pelo rock and roll dos anos 50, muitos artistas e bandas que surgiram de 1963 em diante, surgiram com uma nova proposta de som. Jimi Hendrix, que iniciou sua carreira em setembro de 1963 (aos 20 anos de idade, após ser dispensado do exército por se fraturar durante um salto de paraquedas), foi além daquilo que era conhecido até então. Hendrix revolucionou e deu o pontapé inicial para aquilo que viria a ser conhecido como rock psicodélico, graças às drogas da época que pipocavam na cabeça dos jovens. A psicodelia entrou em cena aí. O rock and roll ficou competitivo, com bandas e artistas querendo superar uns aos outros tanto em termos de arranjo quanto de talento. Era o início daquilo que chamamos de rock progressivo. Em junho de 1967, ocorreu o Festival Pop de Monterey; e em agosto de 1969, por três dias, o mundialmente conhecido Festival de Woodstock.

O rock and roll havia amadurecido e músicas mais elaboradas entraram em cena. Para exemplificar bem isso, vejamos: o Pink Floyd lançou seu primeiro álbum em agosto de 1967. O Deep Purple lançou o “Shades of Deep Purple” em 1968. O Led Zeppelin surgiu em 12 de janeiro de 1969, com os grandes solos de guitarra de Jimi Page, com as linhas de baixo precisas de John Paul Jones marcando religiosamente cada compasso, e com John Bonham destruindo o kit de bateria. O Carpenters, duo formado pelos irmãos Richard e Karen Carpenter (vitimada por uma anorexia em fevereiro de 1983), famoso por seu soft-rock bem trabalhado e orquestrado, lançou seu primeiro álbum em nove de outubro de 1969; e no dia seguinte, em 10 de outubro, o mundo conheceu também o primeiro álbum da banda inglesa King Crimson. Viu só, meu amigo? Você consegue perceber o surto descontrolado de rock progressivo naquela época? Isso sem falar em inúmeras outras bandas que surgiram no mesmo período!

Ao mesmo tempo em que essa demasiada impecabilidade tomava conta do rock and roll, alguns jovens procuravam ainda se impor na busca de manter a simplicidade da música. Nem todos os jovens tinham paciência para ouvir uma música de 12 minutos, como “Take a Pebble” da banda inglesa Emerson Lake & Palmer, lançada em 1970; nem músicas de 17 minutos de duração, como “Nantucket Sleighride” da banda nova-iorquina Mountain (lançada no álbum ao vivo “Mountain Live: The Road Goes Ever On”, de abril de 1972); tampouco as longas suítes da banda estadunidense Grateful Dead, que não raramente atingiam os 20 minutos de duração, graças aos longos solos do guitarrista e vocalista Jerry Garcia. Muitos jovens não aguentavam ver a música caminhando para esse precipício e estavam de saco cheio de toda essa enrolação.

Na cidade de Nova Iorque, no começo dos anos 70, dois amigos chamados John William Cummings e Douglas Glenn Colvin falavam da música com muito mal gosto, desanimados com o rumo que ela tomava. Eles não gostavam daqueles longos solos de guitarra, dos longos solos de bateria, dos teclados, sintetizadores e das músicas extensas que caracterizavam o rock progressivo. Eles gostavam de tocar, de criar músicas, mas sabiam muito bem que eram amadores, e não músicos exímios. Eles jamais tocariam do jeito que aqueles músicos estudiosos e perfeccionistas tocavam.

Em janeiro de 1974, após muita conversa e gosto musical em comum, esses dois amigos foram juntos à Manny’s Music, uma loja de instrumentos musicais na cidade de Nova Iorque, e compraram os seus instrumentos musicais. John William Cummings pagou US$ 50 dólares por uma guitarra Mosrite Ventures usada, e Douglas Glenn Colvin pagou uma quantia parecida por um contra-baixo da marca Danelectro. Com os instrumentos em mãos, gosto musical em comum e o objetivo de criar uma banda com a missão de tocar músicas simples e de pouca duração (exatamente igual às músicas de rock and roll dos anos 50), os amigos John William Cummings e Douglas Glenn Colvin adotaram, respectivamente, o nome de Johnny Ramone e Dee Dee Ramone. E juntos, eles formaram a banda Ramones.

Os Ramones tiveram como grande inspiração os Stooges, a primeira banda do músico Iggy Pop, responsável por fazer um som diferenciado na época. Conforme o próprio Dee Dee Ramone afirmou no excelente documentário “End of The Century: The Story of the Ramones”, lançado em 2003: “talvez só três pessoas gostavam dos Stooges em toda a região que morávamos [bairro do Queens, Nova Iorque]. Todo mundo era violentamente contra eles. Então quem gostava dos Stooges acabava se tornando amigo.”

Embora os Stooges tenham servido como grande inspiração para os Ramones, a banda liderada pelo vocalista Iggy Pop não pode ser tida como uma banda punk.

O álbum de estreia dos Stooges, lançado em cinco de agosto de 1969, tinha apenas oito músicas e todas elas possuíam guitarras cheias de efeitos (como o uso de pedal wah-wah nas faixas “1969” e “Ann”) e solos de guitarra. Além do mais, a terceira faixa do disco, a sombria “We Will Fall”, contava com longos 10 minutos de duração, algo completamente impensável para uma banda punk. Como se não bastasse, os quatro membros da banda eram grandes adeptos do rock experimental e, principalmente, do rock psicodélico. Nas gravações demo, feitas antes do lançamento do primeiro álbum e só divulgadas ao mundo no ano de 2005, todas as faixas trazem experimentações. Como o próprio Iggy Pop chegou a afirmar no encarte do álbum de estreia da banda, “nós ensaiávamos todas as músicas meticulosamente, mas depois de dois minutos de música ensaiada, o céu era o limite, e as músicas atingiam de seis a oito minutos por causa da improvisação. Era assim que eu via a gravação!”

Nos primeiros repertórios dos Stooges, não era incomum vermos uma música com cinco minutos apenas de solo de guitarra e improvisação, algo fortemente inspirado pelo rock progressivo que dominava os anos 60. Somado a isso, o vocalista Iggy Pop e o guitarrista Ron Asheton sempre negaram o fato de pertencerem ao movimento punk. O que fez com que os Ramones se inspirassem nos Stooges não foi necessariamente a música, mas as performances da banda ao vivo, que eles adoravam assistir na casa do amigo Richie Stern. Ainda no documentário “End of The Century: The Story of the Ramones”, o músico Dee Dee Ramone comenta: “Nós tínhamos um amigo, Ritchie Stern, e ele era o líder dos fãs dos Stooges. (…) E nós tínhamos uma fita dos Stooges ao vivo que a gente sempre tocava quando estávamos juntos. Fazia parte da diversão ver os Stooges e se divertir enquanto Richie dançava imitando o Iggy para nós.” Esse amigo, Richie Stern, faleceu em fevereiro de 2015.


As performances dos Stooges eram todas cheias de energia, esquisitices e fúria adolescente. Aquilo era feito para chocar toda a sociedade e quem quer estivesse pelo caminho. Nos shows da banda, os Stooges faziam um “pano de fundo sonoro” para que o vocalista Iggy Pop se contorcesse no palco e se auto-mutilasse com cacos de vidro. Iggy Pop era o GG Allin do final da década de 60.

Inspirados, então, pela fúria dos Stooges e pelas performances do vocalista Iggy Pop, o estilo de música simples, curto e grosso que os Ramones faziam foi batizado de “punk rock”. Os Ramones foram criados em 1974, pelos amigos Dee Dee e Johnny Ramone. Em 16 de agosto do mesmo ano, eles fizeram seu primeiro show, no extinto bar CBGB, em Nova Iorque, para uma plateia de somente cinco pessoas. Cerca de dois anos depois, em quatro de fevereiro de 1976, eles lançavam o álbum de estreia da banda, pela gravadora Sire Records, fundada em 1966 pelo judeu Seymour Stein. O processo todo foi muito rápido.

O álbum de estreia da banda, gravado no oitavo andar do Radio City Music Hall, era formado por 14 faixas: sete lançadas no lado A e mais sete no lado B do vinil. O que eles queriam, em uma sociedade cada vez mais hipnotizada e sedada pelos efeitos do rock progressivo, era mostrar que música, para ser boa, não necessitava de longos solos de guitarra e bateria, não necessitava exceder os dez minutos de duração, e, acima de tudo, não necessitava de ser feita dentro de um conservatório musical. Três meses após o lançamento do primeiro álbum dos Ramones, a banda inglesa Rainbow, liderada pelo vocalista Ronnie James Dio, lançava seu segundo disco, o famoso “Rising”, com “Stargazer” (a progressiva faixa de oito minutos) estourando mundo afora.

Das catorze faixas lançadas no primeiro álbum dos Ramones, nenhuma excedia os três minutos de duração e nenhuma possuía solos. Era uma clara tentativa de ressuscitar o rock dos anos 50 que começava a perder espaço frente ao amadurecimento do gênero, apenas isso. Tamanha a explosão e energia, o álbum foi gravado em apenas uma semana (três dias de gravação para o instrumental e mais quatro para a gravação da voz) e teve um custo de apenas US$ 6.400 dólares (um valor absurdamente irrisório para a época, já que bandas como Fleetwood Mac e artistas como Karen Carpenter gastavam meio milhão de dólares em estúdio e cerca de dez dias para gravar uma única música). Além do mais, o primeiro álbum dos Ramones vendeu 6 mil unidades apenas em seu primeiro ano.

Após a gravação de seu primeiro álbum, os Ramones foram fazer uma turnê de poucos dias na Inglaterra. O primeiro show dos punks nova-iorquinos na Inglaterra ocorreu no famoso Roundhouse, em Londres, no dia quatro de julho de 1976, dia do feriado da Independência dos Estados Unidos. O local, construído em 1846, foi palco de uma genuína revolução. Entre os ingleses que na época não eram nem um pouco conhecidos e que, após o show dos Ramones, tiveram a ideia de formar sua primeira banda, estavam John Joseph Lydon (que mais tarde adotou o apelido de Johnny Rotten e passou a ser vocalista da banda Sex Pistols), Raymond Burns (que adotou o apelido de Captain Sensible e fundou o The Damned), Chrissie Hynde (que, em março de 1978, criou o Pretenders), John Simon Ritchie (que, depois, adotou o apelido de Sid Vicious e se imortalizou como “o homem símbolo do punk rock”, após sua morte aos 21 anos de idade por uma overdose de heroína), e inúmeros outros.

Ainda no documentário que já mencionei sobre a banda, Legs McNeil, fundador da Punk Magazine e autor dos livros “Please Kill Me: An Uncensored Story of Punk” (volume 1 e 2), com um cigarro preso nos dedos e soçobrado numa cadeira, afirma energicamente: “Esta música salvou o rock and roll e influenciou milhões de crianças por todo o mundo, e eles nunca foram reconhecidos por isso.” Tardou o reconhecimento, mas não podemos dizer que ele falhou.

Logo após o plantio das sementes da discórdia em Londres, os Ramones viajaram de volta para os Estados Unidos. Num pequeno espaço de tempo de 10 meses, a banda lançou mais dois álbuns: o “Leave Home” em janeiro de 1977, e o famoso “Rocket to Russia” em novembro do mesmo ano, tido por muitos aficionados como o melhor álbum da banda.

Da mesma forma que o punk estourou pelo mundo, no Brasil não foi diferente. Na São Paulo de 1978, a banda Restos de Nada foi a primeira a surgir, tendo em sua formação o vocalista Ariel, o baixista Clemente Nascimento, o guitarrista Douglas Viscaíno, e o baterista Carlos Charles. A banda chegou ao fim dois anos depois, em 1980, e o que não é muito comum de se acontecer, aconteceu: o primeiro álbum só foi gravado em 1987, sete anos após o fim da banda, sob o pretexto de “eternizar as músicas que eles haviam composto na época”.

Os Restos de Nada têm sua importância no cenário nacional sem dúvida alguma, afinal, eles foram os precursores da coisa toda... o triste é que eles não tiveram o devido reconhecimento. As três bandas de punk rock mais conhecidas pelo pessoal e que mais angariaram sucesso aqui no Brasil foram o Olho Seco, formado em 1980; os Ratos de Porão, formado em novembro de 1981; e os Garotos Podres, formado no ano seguinte, em 1982. E claro, estávamos, sim, no período da Ditadura Militar.



Continua no dia 03 de junho, sábado da

semana que vem, quando publicarei

a parte 2.

"Grande reportagem: A Questão Político-Ideológica no Punk (Parte 1 de 4)" por Rafael Fioravanti | Bolha Musical

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