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Grande reportagem: A Questão Político-Ideológica no Punk (Parte 4 de 4)

Continuação da Parte 3 (clique aqui se ainda não a leu).


“O pessoal fica tentando filosofar em cima de uma coisa que o próprio Mao fica embutindo neles. E esse mesmo pessoal acaba não questionando a circunstância desse líder, pelo fato de o Mao se passar bem por um cara de esquerda, por um líder jovem. Eu acho errado, mas até aí, se a pessoa aceita isso, o problema é dela, não meu. Eu não aceito, eu questiono. Eu quero saber o fundamento, o porquê de estarmos lutando e para quem estamos lutando. Então não houve uma divergência ideológica, porque sempre houve uma aceitação. (...) As imposições políticas e os direcionamentos do Mao [eram uma coisa] que ninguém aguentava. Esse negócio de transformar a banda num agente cultural da esquerda festiva atual é errado, a banda não foi criada para isso, a banda não pode ser assim. Para quem, essencialmente, veio do punk e para quem, essencialmente, veio da periferia e do contexto operário, não tem que segurar a bandeira de filho da p*** nenhum, porque todos eles vão nos trair cedo ou tarde, e a gente está vendo isso agora.” O trecho “todos eles vão nos trair” é uma referência que o baixista fez a uma música do Garotos Podres, no caso, “Anarkia Oi!” (nessa grafia mesmo). “Nós só não estamos vendo essa traição mais diretamente, porque estamos aqui conversando e com saúde. Se Deus me livre, você tiver um derrame e precisar de um hospital, você vai ver que foi traído. Então, dentro desse conceito, não é admitido os Garotos Podres se tornarem uma banda comunista.” E o músico vai além. “Acontece que 33 anos tocando juntos não é pouca coisa. Antes de qualquer coisa, de movimento, de público, de comunista ou de sei lá mais o quê, deve existir o vínculo de amizade. Tem que existir a hombridade, deve existir a vergonha na cara, tem que ser homem. Não é pegar a bola igual uma criança mijada e sair do campo, não é assim que funciona. Já estamos com 50 anos.”

“Um dia você vai descobrir que todos te odeiam e te querem morto (...) eles não querem que você viva, destrua o sistema antes que ele o destrua, não acredite em falsos líderes, pois todos eles vão nos trair.” Para o baixista Michel “Sukata” Stamatopoulos, uma banda, lá pelos anos 80, cantou versos como esses, apoiar um governo “traidor” soa deveras contraditório.

Usando então o governo (ou o “estamento burocrático”, como diria o grande sociólogo e historiador Raymundo Faoro) como gancho, a conversa vai em direção à decadência social e à pobreza existente em nosso país. Esse cenário de lúgubre pobreza, no qual ainda estamos mergulhados, é de fato um ambiente propício para o surgimento de bandas punks? Afinal, tenhamos em mente que o movimento punk sempre esteve associado a essas precariedades. Quem me mostrou seu ponto de vista em relação a essa pergunta que Michel “Sukata” Stamatopoulos levantou, foi Juninho Sangiorgio, baixista de uma das bandas punks mais bem-sucedidas do país: Ratos de Porão.

Para essa entrevista, Juninho me convidou para ir até a sua casa, numa viela sem saída do bairro Ipiranga. Recém-chegado de um mercado, onde comprara só comida vegana (lentilha, arroz integral, e naturebas desse tipo), o músico me esperava em frente à sua casa, parado bem no meio da rua. Seu cachorro procurava um lugar para as suas necessidades, andando pela calçada de um lado para o outro. “Que pontualidade, hein?”, disse ele. “Espere só o cachorro terminar o serviço.” O vira-lata até que foi rápido.

Optamos em fazer a entrevista no quarto de Juninho, ao lado de uma prateleira repleta de discos de vinil dos mais variados gêneros. Aos domingos, Juninho Sangiorgio conduz um programa de jazz na rádio online alternativa Antena Zero (fundada em 2012 e que conta com uma média diária de seis mil ouvintes da faixa etária dos 25 aos 50 anos de idade), chamado “Sunday ‘Round Midnight”, onde só toca os grandes clássicos do jazz. E quando ele me recebeu em sua casa para essa entrevista – na mais colossal boa vontade –, usava uma camiseta verde da banda straight-edge chilena Intenta Detenerme. Isso me fez ter certeza do espírito eclético do músico. Sempre pacato demais e falando com certa segurança de causa, Juninho desenvolveu muito bem suas linhas de raciocínio.

“Sim, eu acho o Brasil um local propício para o nascimento de bandas punks, porque as primeiras bandas que começaram a levantar essa bandeira do punk, tipo os estadunidenses do Dead Kennedys ou os ingleses do Discharge, sempre foram de países ricos. E por que é que existem os países de primeiro mundo? Porque têm os de terceiro mundo que os caras estão explorando! Então é assim que as coisas funcionam, cara, só existe a Suécia lá, bilionária, porque existe também algum país de terceiro mundo que está se fod***. Você não pode falar que a Suécia é neutra, não existe essa neutralidade. Você pode ter certeza que todos os escritórios e fábricas responsáveis pelas coisas que os caras produzem estão em algum país de terceiro mundo, explorando. Isso é o capitalismo mesmo. Então o Brasil veio depois, um pouquinho depois dessa explosão mundial do punk, só que falando das coisas de terceiro mundo, coisas que só aconteciam aqui. Não se falava das coisas de fora. Falava sobre o desemprego, sobre o FMI, preconceito racial e social, coisas de sofrimento principal do terceiro mundo e que ainda se mantém atuais. Tão atual que se você pegar a letra das músicas daquela época, você vai ver que continua tudo a mesma coisa porque o capitalismo é o mesmo, senão pior.”

Se os países de primeiro mundo têm assuntos de sobra para falar em suas músicas, logo os de terceiro têm uma lista infinda para abordar. Nunca se falou sobre corrupção, preconceitos das mais variadas estirpes e pobreza com tanto conhecimento de causa. Podemos citar o exemplo da banda russa Pussy Riot, formada na capital Moscou, em agosto de 2011. A banda não só grita contra o sistema patriarcal russo através das letras de suas músicas, como também protesta em lugares públicos.

Há alguns meses, por volta de julho, foi feito um experimento em vídeo de dois homens andando de mãos dadas pelas ruas de Moscou, fingindo-se de gays. A sociedade russa é muito fechada em relação a namoros de casais do mesmo sexo e isso se torna visível neste vídeo em particular. Segundo uma matéria publicada em 15 de julho, no site da BBC Brasil, Nikita Rozhdesev, uma das idealizadoras do experimento, argumenta: “fiquei chocada com as reações. Foram loucas. A cada cinco minutos, nós recebíamos uma reação ruim vinda de alguém na rua”. A grande maioria da Rússia não aceita relações homossexuais e, como mostrado no vídeo, além de xingamentos e olhares raivosos, há um momento em que um homem enfurecido parte para cima do suposto “casal” a fim de agredi-los por estarem andando de mãos dadas em público.


Ao mesmo tempo em que a banda Pussy Riot protesta contra esse tipo de atitude patriarcal e machista, há quem defenda a tese de que os protestos do grupo são demasiados pesados. Em agosto de 2012, as russas gravaram um videoclipe dentro de uma igreja, em protesto ao presidente russo Vladimir Putin. Além dos xingamentos, o videoclipe intitulado de “Oração Punk” foi visto como uma blasfêmia à religião. Isso foi suficiente para levar três delas à prisão.

Para Juninho Sangiorgio, baixista dos Ratos de Porão, “todas as pessoas que se envolvem com o punk, querendo ou não, vão ter uma relação com política.” Para ele, é controverso existir um punk não politizado.

Pergunto-lhe se o punk é feito para criticar, e ele dispara certeiro. “Ah, sim, o punk é uma crítica social e você pode abordar centenas de assuntos que vivemos na sociedade. Claro, por mais que a banda não tenha necessariamente uma bandeira política, ela pode carregar uma bandeira, digamos, para o underground. Sick of it All, vamos supor, que é uma banda hardcore que toca pelo mundo inteiro. Pô, os caras não levantam bandeira de anarquista, não falam que são punks, mas deixam claro que são do underground. Isso significa que eles querem manter uma relação com uma comunidade que existe no mundo inteiro, que gosta de coisas alternativas, que gosta de sons não convencionais, que gosta de ir ao show para agitar e que gosta de cantar com eles. Então há por aí várias vertentes de punk, do mais politizado ao menos politizado.”

Os Ratos de Porão são um belo exemplo de punk politizado. Por mais que a banda tenha passado por uma grande mudança no som (vale mencionar que eles começaram como punks, e hoje, carregam categoricamente a bandeira do gênero crossover), o primeiro álbum da banda ainda é motivo de orgulho entre os punks do Brasil. Saído pela gravadora Punk Rock Discos no ano de 1984, um ano antes do fim da Ditadura Militar – último ano de governo do presidente João Figueiredo –, o álbum de estreia da banda, batizado de “Crucificados pelo Sistema”, conta com 16 músicas em 19 minutos de duração. Das 16 faixas, apenas uma avança para os dois minutos, já que todas as outras variam entre 15 segundos e um minuto e meio. Nem preciso entrar no mérito de dizer que o álbum foi visto na época como uma grande porrada na orelha. Uma porrada da mais politizada ordem.

Entre os sons desse disco que mais marcaram a geração de punks da época está “Obrigado a Obedecer”, numa clara referência ao período militar. A letra da música é tão breve quanto o som: “servir a sua pátria, te obrigam a obedecer, te obrigam a matar, te obrigam a sofrer”.

Em 1984, ano em que os Ratos de Porão lançavam este seu primeiro disco, 61,2% da população em atividade naquele ano recebia até dois salários mínimos. Segundo o cientista social Hélio Jaguaribe, no artigo “A Situação Social do Brasil nos Anos 80” (de autoria do sociólogo Salvatore Santagada), “esse contingente de pessoas e 35,4% das famílias com domicílio permanente foram apontados como pertencentes à parcela da população inserida na linha de pobreza.” Talvez grande parte desse mal-estar econômico nos anos 80 fora ocasionado pelo Milagre Econômico, que acontecera entre os anos de 1968 e 1973. Ainda segundo o artigo: “com a política econômica recessiva de 1981 a 1983, o setor dinâmico da economia (a indústria de transformação) diminuiu seu ritmo de crescimento; o País começou a empobrecer como um todo, e os vários grupos sociais que compõem a sociedade tiveram uma queda significativa na sua renda. Os anos 80 trouxeram consigo mudanças significativas de ordem econômica, política, social e também demográfica.” Toda essa decadência social na qual o país estava afundado serviu de inspiração para que os Ratos de Porão escrevessem músicas como “Pobreza”, “Corrupção”, “Periferia”, e várias outras. Tudo era um reflexo do que a sociedade passava naquela época e o punk agia como uma espécie de porta-voz para todos esses jovens angustiados. Como diria o célebre escritor italiano Cesare Pavese: “antes de eu começar a escrever uma poesia de fato, eu te digo que ela me custa meses de vida e dores.”

Conforme afirmado previamente, o punk foi criado por jovens para, primeiro, fazer o rock and roll voltar às suas modestas raízes, sem todo aquele excesso de perfeccionismo e enfeites, endêmico ao rock progressivo; e segundo, porque esses mesmos jovens sabiam que jamais conseguiriam atingir o alto nível de prolixidade que o rock da segunda metade dos anos 60 exigia. Por isso que quando o punk surgiu e se propagou, muitos jovens sentiram como se aquele novo (e incompreendido) tipo de som dissesse a eles: “sejam todos muito bem-vindos”. Aí a união entre punks cresceu em todo o mundo.

Com muita calma e comedimento, Fabio Sampaio, vocalista da banda Olho Seco, fala para mim: “O pessoal punk aqui no Brasil é mais americanizado. Lá nos Estados Unidos é assim, os caras sobem no palco, pulam e tal. O público europeu já é mais frio. Eles ficam mais quietões, assistindo ao show de braços cruzados. Você até pensa que não está agradando, mas tem lugares lá na Europa em que os caras cantam nossas músicas em português. Você até pensa: ‘caramba!’”

“Isso é assim lá na Alemanha também, não é, Fabião?”, comenta o baixista. O vocalista Fabio Sampaio (o Fabião, tal como sempre foi conhecido), concorda. “Pois é, os alemães vão aos nossos shows e cantam as nossas músicas em português. Eles são loucos pelo Olho Seco.”

E a banda toda é unânime em dizer que o punk está vivo não só no interior, mas em todas as esquinas do Brasil.

Pergunto a eles qual foi o show que a banda mais se orgulha de ter feito, e a resposta não está nos Estados do sul e nem do sudeste (locais frequentemente associados a uma forte cena punk). O show mais memorável do Olho Seco foi em Recife. “O show que eu mais achei memorável foi o de Recife, hein?” diz o vocalista Fabio, virando-se para os outros três integrantes à espera de comentários em apoio. E eles vieram. O baixista lança um: “Ah, foi massa, viu?” e abre espaço para o guitarrista Ricardo Quattrucci entrar com suas impressões a respeito do show. “Tinha ali umas 15 mil pessoas, e tinha também muita energia. Era um ginásio gigante. Foi irado, porque eu lembro que peguei minha câmera pessoal e a coloquei em cima do amplificador, virada para o público. Ela pegava o palco de ponta a ponta, e deu para ver bem aquela galera toda.” O baixista bebe uns goles de sua Heineken e dispara: “Antes da gente tocar, o pessoal já estava gritando o nome da banda. Daí quando começamos a tocar, eu olhei para baixo e vi umas três rodas punks abertas no meio da multidão. Rodas gigantes. Depois eu li resenhas [sobre o show] e falaram que o Olho Seco foi uma das bandas que mais agitaram o evento. Tanto que, depois de nós, entrou uma banda gringa para tocar e o público ficou mais naquela de assistir à banda do que participar do show.”

E claro, aproveitando a deixa, nem pense que se trata apenas de um público punk. Muitos skinheads também frequentam os shows.

Diante do músico Juninho Sangiorgio, baixista do Ratos de Porão, perguntei a ele se aparecem muitos skinheads nos shows da banda. A clara impressão que ele me passou em sua resposta foi de que o movimento punk/ skinhead brasileiro foi construído sobre um terreno vacilante e não muito firme, repleto de incompreensões a ponto de muitos membros do movimento não tolerarem aqueles que estão na mesma causa, e principalmente no mesmo grupo.

“Olha, [skinheads nos shows dos Ratos de Porão] rola pouco, cara. Não rola muito. Eu vejo em outros países, por experiência, que tem muito punk e skin que andam juntos. Nós fizemos uns shows no Chile há pouco tempo e havia muitos skinheads – todos anti-nazi. Olha, vou te falar com sinceridade, eu nunca fui muito próximo do movimento skinhead, porque desde a época em que entrei no punk, os caras já falavam que skinhead era inimigo. Só depois que eu fui entender esse lance do skin inglês e parei pra pensar: ‘pô, mas as coisas não são bem assim.’ Tem skin comunista, skin anarquista, skin antinazismo, o que é bem diferente daqueles skinheads racistas. É outra parada. Então isso é muito confuso. Eu assisti um documentário francês sobre skinheads na França e a confusão é tão grande que até os caras mesmo se confundem. Rola muita treta, umas brigas cabulosas, tudo é muito tenso. Tem um momento no documentário que uns caras falam: ‘a gente era skinhead SHARP (os skinheads anti-racistas) e quando nos encontrávamos com os nazistas na rua, a gente socava os caras e roubava a roupa deles. Então chegou uma hora em que a gente olhava pros caras na rua e nós mesmo não sabíamos o que o cara era, porque ele estava com uma jaqueta roubada, a calça que era dele, o cadarço era de outra pessoa, uma confusão.’ E o que chegou aqui pro Brasil foi tão confuso quanto isso. Um tempo atrás, meu amigo estava andando na rua com a camiseta do Cólera e, do nada, surgiu uns skinheads e socaram ele. Pô, que tipo de skinhead é esse?”, o baixista demonstra indignação com esse fato, gesticulando enquanto fala. O vira-lata deambulando ao nosso redor. “Agora, nos shows dos Ratos de Porão, eu já vejo muitos skinheads de visual clássico, de boa, que estão lá só para curtir o show. São esses que acabam aparecendo.”

No dia seis de agosto de 2011, punks e skinheads neonazistas protagonizaram uma briga de bar em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, que acabou com oito pessoas feridas. A confusão se deu no Terraço Garibaldi, na Avenida Venâncio Aires, bairro Cidade Baixa, por volta das 19 horas. Um dos feridos, esfaqueado na barriga, era negro e não possuía qualquer relação com a briga.

No sábado, três de setembro de 2011, um show da banda inglesa Cock Sparrer, no bar Carioca Club, em Pinheiros, zona oeste da cidade de São Paulo, foi palco para mais uma briga entre punks e skinheads. Cerca de 200 pessoas se envolveram na confusão. Punks e skinheads se enfrentaram com facas e garrafas. O punk Johni Raoni Falcão Galanciak, de 25 anos, foi morto com uma facada. Ele chegou a ser transportado até o Hospital das Clínicas, no bairro paulistano de Cerqueira César, mas não resistiu.

Em 2012, Tamires Fernanda Sozinho, então com 28 anos, chefe de um grupo de skinheads que agia na região metropolitana de Porto Alegre, também foi presa. Ela foi encontrada escondida em Caxias do Sul, na casa de parentes. Além de agredir seus rivais com um estilete, Fernanda também possuía várias tentativas de homicídio em sua ficha criminal. “Eu não tenho nada a falar para vocês”, disse à equipe de jornalistas no momento de sua prisão.

Em abril de 2013, Antônio Donato Baudson Peret, então com 25 anos, foi preso na cidade de Americana, interior do Estado de São Paulo. Antônio ficou conhecido nacionalmente por postar uma foto na rede social Facebook em que aparecia enforcando um morador de rua e cometendo crime de apologia ao nazismo. Em Minas Gerais, seu Estado natal, Antônio Peret é acusado de mais seis ocorrências, todas tendo negros, moradores de rua e homossexuais como vítimas. Na matéria, publicada pela plataforma on-line Terra, há ainda no título uma alusão ao movimento skinhead.

Em nove de março de 2015, foi noticiado que a Polícia Militar havia prendido um truculento skinhead na pequena cidade de Mogi Mirim, interior do Estado de São Paulo. Juliano Aparecido de Freitas (condenado, em 2011, a 24 anos e seis meses de prisão), acompanhado de mais três skinheads, obrigaram dois jovens punks a saltarem de um trem em movimento na estação de Brás Cubas, em dezembro de 2003. Na época, tal fatalidade foi um grande destaque nos noticiários. As vítimas usavam camisetas de bandas punks – como Ramones – e possuíam moicano como corte de cabelo. Um morreu, o outro teve o braço amputado.

Em sete de agosto do mesmo ano, foi divulgado que Guilherme Lozano de Oliveira, 22 anos, havia sido detido por ter assassinado e esquartejado a sangue frio sua tia paterna, a professora Kely Cristina de Oliveira, de 44 anos. O responsável por entregar Guilherme à polícia foi o próprio pai, irmão da vítima. A notícia conta também que Guilherme é um skinhead responsável pela morte de um amigo punk em 2011. A justiça autorizou que ele aguardasse um recurso em liberdade.

Esses episódios citados acima são apenas alguns exemplos de brutalidades ocorridas entre punks e skinheads, dois movimentos que, embora possuam familiaridade, são cada vez mais mantidos longe um do outro – talvez por falta de conhecimento ou ignorância de seus membros.

Em todas essas notícias publicadas na mídia no passar dos anos, não houve interesse por parte dela em esclarecer a verdadeira história por trás de ambos os movimentos – o que seria uma decisão salutar para que tentássemos resolver problemas de racismo e preconceito.

Einstein costumava dizer que “os problemas significativos que enfrentamos não podem ser resolvidos no mesmo nível de pensamento em que estávamos quando os criamos.” É nisso em que se resume toda e qualquer generalização que os cidadãos fazem ao afirmar de cátedra que todo skinhead é racista e/ou todo punk violento; novamente frisando, isso tudo por culpa da grande mídia. Assim, toda generalização popular nada mais é senão compreensível, fruto desse desserviço, e nesse defeito, para piorar, reside a perpetuidade.


Fim da grande-reportagem.

"A Questão Político-Ideológica no Punk"

Esta grande-reportagem foi construída com base em entrevistas coletadas no período de março a abril de 2015. O jornalista Rafael Fioravanti não se responsabiliza por quaisquer depoimentos aqui citados.

"Grande reportagem: A Questão Político-Ideológica no Punk (Parte 4 de 4)" por Rafael Fioravanti | Bolha Musical

Ratos de Porão ao vivo no Piracicaba Tattoo Fest, em 20 de novembro de 2015. Foto de Rafael Fioravanti.

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