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Banda Dragonheart, de Curitiba, concede entrevista ao Bolha Musical

Creio que a qualidade de uma banda autoral deve ser medida menos pelo sucesso e retorno financeiro que ela produziu e mais pela longevidade, profissionalismo e qualidade do seu trabalho

"Banda Dragonheart, de Curitiba, concede entrevista ao Bolha Musical" por Rafael Fioravanti | Bolha Musical

A Dragonheart é uma banda pontual. O grupo curitibano de heavy metal iniciou suas atividades no dia 10 de julho de 1997. Os anos 90 foram diferentes, o clima – não só no rock, mas na música de maneira geral – era outro e o grupo lembra-se disso com uma grande nostalgia. A Dragonheart nada mais é do que um misto bem elaborado de heavy metal oitentista com música clássica, medieval e celta; particularidades que se unem de maneira primorosa.

Composta atualmente por Marco Caporasso (vocal/ guitarra), André Mendes (vocal/ guitarra), Mauricio Taborda (baixo) e Thiago Mussi (bateria), o próximo compromisso da banda será no John Bull Pub, em Curitiba, no dia 08 de julho, ocasião em que se comemora a 3ª edição do Metal Warriors Festival.

Quem acompanha o cenário do heavy metal em Curitiba certamente deve conhecer as bandas que integram o line-up desta edição do Metal Warriors, evento já tradicional no calendário da cidade. Em celebração ao Dia Mundial do Rock, a 3ª edição da festa acontecerá a partir das 20 horas e trará ao público quatro bandas: Aquilla, Disharmonic Fields, Archityrants, e claro, a própria Dragonheart.

Confira abaixo a entrevista que o jornalista Rafael Fioravanti, fundador do Bolha Musical, fez com o guitarrista e vocalista André Mendes. Esperamos que essa entrevista com a Dragonheart suscite a curiosidade e a paixão do público para que todos compareçam ao Metal Warriors Festival deste ano e apoiem a cena independente nacional.



Bolha Musical: Bom, a Dragonheart se formou em 1997. Como era levar uma banda de power metal naquele final de década de 90? André: O final da década de 1990 tinha peculiaridades que nós só conseguimos compreender anos mais tarde. Havia a expectativa de que era possível alcançar mais reconhecimento do público, mais mercado, mais fãs; havia o sonho de viver da música. A forma como o negócio da música estava estruturado não era tão clara para nós. Havia um espírito de época que se perdeu, uma aura romântica. Ao mesmo tempo, as inovações tecnológicas introduzidas naquela época davam a entender que haveria a possibilidade de conquistar e expandir ganhos com música. A era digital prometia diminuir custos de produção, mas acabou também tornando, ao longo do tempo, a prática de compra de música em algo obsoleto. Em meio a todo esse desfecho que revela contradições e problemas, ainda assim foram momentos muito bons. Tocar, compor, gravar, todos nós tínhamos mais tempo para dedicar à banda. O dólar baixo e a quantidade de bandas que vinham para cá ajudaram os músicos a conhecer seus ídolos. Lembro com nostalgia.

Bolha Musical: A Dragonheart já é uma banda com mais de 20 anos de estrada, então há bastante história por trás do grupo. Qual foi a melhor experiência da banda enquanto em turnê? André: Eu entrei na banda em 2002 e creio que para todos o período entre 2002 e 2005 foi fantástico. Musicalmente estamos em melhor forma hoje, mas naquela época nós tocávamos em mais eventos e isso faz falta. A receptividade ao álbum "Throne of Alliance" (2002) e, depois, a ótima sequência com o "Vengeance in Black" (2005) nos abriu portas, nos tornou mais conhecidos aqui no Brasil e lá fora também. Pudemos tocar no mesmo palco que nossos ídolos. Para mim foi particularmente inesquecível tocar nos BMU's de 2003 e 2005; as aberturas para o Primal Fear e o bate papo com o Ralf Scheepers; bem como nossa pequena tour com o Grave Digger em São Paulo e Santos.

Bolha Musical: Vocês afirmam na página do grupo que há influências de música clássica, medieval e celta em suas músicas, além de influências também do heavy metal da década de 80. Qual seria a fórmula principal na hora de mesclar todos esses estilos no momento da composição? André: Nós somos muito intuitivos quando vamos tocar para compor. Ninguém fica pensando coisas como "isso aqui precisa soar com o gênero tal..." durante o momento da composição. Se compomos separadamente, mandamos as gravações para a audição de todos e daí experimentamos a ideia num ensaio. Se um dos integrantes não gostar do arranjo, descartamos. Não consideramos legal tocar algo que não gostamos, que não nos soa agradável. No fundo, compomos uma música como gostaríamos de ouvir e achamos que isso é o mais honesto possível da nossa parte. Sabemos que, no final, quem gosta da banda terá sua preferência, mas nós gostamos de tudo.

Bolha Musical: Como vocês enxergam a questão dos covers na música hoje? Pode-se dizer que, para uma banda, a batalha entre covers e música autoral ainda é forte? André: Seria uma batalha forte se o público fosse o mesmo e estivesse sendo disputado. Há um pouco de ressentimento entre quem toca música autoral, pois o mercado do cover dá algum retorno financeiro – algo que é almejado por todo mundo que tem sua banda de som próprio. Mas o fato é que quem vai num bar ver uma banda cover de Pantera, por exemplo, só lá vai porque se identifica com aquele tipo de som... e não só por isso, vai lá também para tomar uma cerveja com um amigo, tentar conhecer alguém e formar um par na noite. Em geral, quem incendeia esta briga entre banda cover X autoral não considera estas variáveis. Não adianta eu ter uma banda de som próprio que soe como um Helloween e ficar chateado por que o fã de Pantera quer ver uma banda cover. Eu precisaria pensar numa estratégia para atingir este fã, mas não posso esperar que ele seja passivo e goste da minha banda só por que eu acho ela boa e por isso ele vai sair de casa só para me ver. Este fã não seria atingido por mim mesmo se eu fizesse um som igual Pantera. Particularmente, acho que culpar a falta de crescimento de uma banda autoral por causa do cover é reduzir o tamanho do problema. Muita banda cover cresce porque a atitude num bar é bastante profissional, outras não vão para frente por falta da mesma atitude. Do outro lado da moeda, já pude ver várias bandas autorais levando equipamento ruim, tocando alcoolizado, ofendendo outras bandas e pessoas durante o show; por outro lado, já vi também bandas autorais sendo super responsáveis, com ética e atitude profissional - algo que não é garantia de sucesso, mas que se faz o mínimo necessário. É preciso respeitar o público acima de tudo. É preciso profissionalizar mais a produção do show, tendo plena noção de que não é apenas isso que trará sucesso. Não há receita mágica. Nem entramos no mérito de como os donos de bares preferem as bandas covers, porque isso é uma questão óbvia: o empreendedor busca lucro e é assim que gira o mundo capitalista. Creio que a qualidade de uma banda autoral deve ser medida menos pelo sucesso e retorno financeiro que ela produziu e mais pela longevidade, profissionalismo e qualidade do seu trabalho. Falo isso de uma posição muito pessoal, que é a de quem já não almeja ganhar rios de dinheiro tocando e que já se sente confortável em continuar produzindo registros musicais.

Bolha Musical: Agora fazendo uma retrospectiva: da primeira demo do grupo, "Gods of Ice" (1998), ao último disco gravado até então, "The Sanctuary Battle" (2015), o que vocês podem ressaltar que mais mudou na sonoridade? André: Acredito que nossa evolução musical pessoal. A banda tinha uma musicalidade mais "alegre" na demo e no "Underdark". Havia menos preocupação com o sotaque, eram todos pouco experientes. Mesmo eu não tendo feito parte dessa época, ouvi muito a banda antes de entrar nela. E recordo que quando ouvi o "Throne" já senti uma evolução. Houve muita preocupação em timbrar melhor as guitarras, baixo, em se fazer uma arte de alto nível para a capa. Até hoje, as pessoas mencionam a capa daquele álbum como uma das mais bem feitas que conhecem. Com a saída do Eduardo e minha entrada, fatalmente aconteceriam mudanças, pois desde o início da nova formação os rapazes deixaram claro que eu poderia externar minha musicalidade. Eu inseri uma coisa mais densa. A banda não tinha composto nada arrastado até então, músicas como "Cheops Scape" ou "The Ancient Oracle". E muita coisa aconteceu entre os anos de 2005 e 2012 que fizeram com que a banda deixasse de ser prioridade nas nossas vidas, como problemas de saúde, familiares, etc... o Marcelo saiu da banda, o Thiago entrou. "The Battle Sanctuary" começou a ser composto em 2006, mas só finalizamos a composição em 2013. Gravamos entre 2013 e 2014 com bastante dificuldade. Exploramos novas possibilidades rítmicas e convenções com o Thiago e deixamos essa veia mais "dark" aparecer em canções como "Black Shadow", "Inside The Enemies Mind" e "Circle of One", mas também apostamos em coisas mais melódicas como "The Ttime Will Tell" e "Arcanes Palace". O fato é que gostamos de várias vertentes dentro do metal e tentamos inserir elementos variados sem que percamos a nossa identidade.

Bolha Musical: Quais são os planos futuros da banda? Há algum CD, demo, vídeo ou qualquer outro material em vista? André: Nossa última conversa sobre planejamento futuro foi sobre fazer um vídeo, pois nunca fizemos. Seria legal ter um videoclipe de alguma canção do "The Battle Sanctuary". O Thiago fala muito sobre compor novas canções. Depois do próximo show, vamos sentar e conversar sobre o que faremos em breve e os planos para médio e longo prazo.

Bolha Musical: Em 8 de julho, ocorrerá a terceira edição do Metal Warriors Festival, no John Bull Pub, em Curitiba – evento em que vocês estão confirmados. O que o público pode esperar da Dragonheart em palco? André: Pode esperar empolgação, energia, heavy metal rápido e pesado, as vocalizações típicas dos três vocalistas e a mão pesada do Thiago nos tambores. Tocaremos músicas de todos os álbuns e até uma canção do "Vengeance in Black" que nós nunca tocamos aqui em Curitiba.

Bolha Musical: Na sua opinião, de que maneira um festival como o Metal Warriors contribui com a cena local de Curitiba? André: O evento agita um pouco o universo da música autoral, do heavy metal curitibano. Há três anos, quando começamos com a ideia estava bem raro ter eventos desta natureza por aqui. Recentemente algumas bandas entraram em contato conosco querendo participar do festival. Acho muito legal isso; de repente, estamos criando uma tradição. A ideia é que a coisa cresça. Se alguém tiver uma banda e quiser participar dos eventos futuros, compareça no próximo, vamos conversar sobre o festival, vamos organizar as coisas, estamos abertos a isso! Mas para que as coisas cresçam, vai ser necessário sair um pouco da internet e ir para o bar... aliás, essa ideia me agrada bastante.

Bolha Musical: Agradeço pela entrevista. Para finalizar, mande uma mensagem final ao público que os acompanha! André: Em nome dos outros integrantes, quero agradecer o espaço dado para divulgar nosso trabalho e nossa história. Esperamos que o público compareça ao festival e aprecie as bandas que tocarão, pois todas são muito boas e têm história de esforço e amor pelo heavy metal. Enquanto esse sentimento existir, faremos todo o esforço possível para continuar tocando o som que mais amamos. Um grande abraço.


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3ª edição do Metal Warriors Festival: Bandas: Aquilla + Archityrants + Disharmonic Fields + Dragonheart Data: sábado, 08 de julho de 2017 Local: John Bull Pub Endereço: Rua Mateus Leme nº 2204, São Francisco, Curitiba/PR Horário: abertura das portas às 20h Página do evento no Facebook: clique aqui.

Ingressos: Masculino: R$ 20,00 Feminino: R$ 15,00 A venda ocorrerá exclusivamente no dia do show, na bilheteria da casa.

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