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Igor Sidorenko (Stoned Jesus) concede entrevista ao Bolha Musical

Sem papas na língua, músico fala sobre o começo da banda, sobre suas influências, critica os grupos de stoner rock atuais por conta de suas limitações e fala também de novo disco para 2018

"Igor Sidorenko (Stoned Jesus) concede entrevista ao Bolha Musical" por Rafael Fioravanti | Bolha Musical

Na foto, a banda Stoned Jesus. Da esquerda para a direita: Sergii Allergii (baixo), Igor Sidorenko (guitarra/voz) e Viktor Kondratov (bateria).

Prestes a desembarcar no Brasil para cinco shows, o simpático Igor Sidorenko – vocalista/guitarrista do Stoned Jesus – concedeu uma interessante entrevista ao jornalista musical Rafael Fioravanti. Comedido e falando com convicção de quem sabe o que quer, Sidorenko comentou as influências de sua banda, os discos gravados, o ritmo alucinante das turnês, comentou sobre os artistas brasileiros que costuma ouvir, e claro, teceu críticas às bandas contemporâneas de stoner rock pela pouca profundidade lírica. É fã de um bom e velho stoner rock? Então não deixe de ler a entrevista abaixo!

O Stoned Jesus desembarca no Brasil em breve para cinco shows. O cronograma é o seguinte: 13 de agosto em Florianópolis; 17 de agosto no Rio de Janeiro; 18 de agosto em Belo Horizonte; 19 de agosto em São Paulo; e para finalizar, dia 20 de agosto em Goiânia, onde participam da 23ª edição do Goiânia Noise. Para saber mais sobre todos esses shows dos ucranianos do Stoned Jesus aqui no Brasil, clique aqui para um aprofundamento maior que fizemos.



Bolha Musical: Bom, vocês já estavam envolvidos com música e bandas antes mesmo da criação do Stoned Jesus, então gostaria de saber como o Stoned Jesus nasceu? Igor Sidorenko: O Stoned Jesus começou como um projeto particular meu e só veio a se tornar de fato uma banda no ano seguinte à criação. Eu acabei até deixando um pouco de lado o stoner doom porque o gênero se tornou muito limitado para mim e eu estava a fim de fazer mais experimentações na época. Daí o resto é história – um cara saiu, outro entrou, e assim foi. Atualmente somos um trio esforçado em manter nossas músicas (e performances) interessantes não só para nós, mas também para o público.

Bolha Musical: Quais são as principais influências para o som que vocês fazem? Igor Sidorenko: A princípio, só queria homenagear meus heróis do heavy metal da década de 70, como Led Zeppelin, Free, Sabbath, essas coisas... e acho que o álbum "First Communion" serviu exatamente para isso. Mais tarde, a gente foi incorporando em nosso som elementos do grunge, da psicodelia e do progressivo.

Bolha Musical: Em 2010, o Stoned Jesus lançou o "First Communion", seu primeiro disco; em 2012 saiu o segundo, o aclamado "Seven Thunders Roar"; por fim, em 2015, veio "The Harvest", o último material de vocês até o momento. Vocês deram uma guinada bem art-rock nesse último. Como é que foi a gravação do "The Harvest"? Igor Sidorenko: Está mais para um art-metal! (risos) Sim, "The Harvest" foi nosso último álbum, mas, para mim, ele não soa nada como um disco novo; não só porque já faz 2 anos e meio que o gravamos, mas porque todos os sons foram escritos entre 2010 e 2012 – só "YFS" foi composta em 2014. O álbum "The Harvest" deu trabalho, pois levou 15 meses para ser gravado e mixado. Mas o resultado valeu a pena! Para ser bem sincero, "The Harvest" é o único disco que nós ouviríamos sem invocar com a qualidade do som e de nossa performance.

Bolha Musical: O Stoned Jesus compõe junto ou a composição é basicamente um processo individual? Igor Sidorenko: Sou eu que escrevo as músicas e letras na banda, então o processo é sempre bastante emotivo para mim. O que mais me irrita nas bandas de stoner rock atualmente é que elas não escrevem nada além de frases como "a wizard hits the bong and goes to the outer space". Elas ficam só nisso. Claro, eu também já fiz muito isso no nosso primeiro disco, o "First Communion", mas, mesmo naquela época, eu só usava uma ou duas metáforas em toda a letra. Eu precisei amadurecer minha maneira de compôr e, hoje, posso dizer que todas as letras nos discos "Seven Thunders Roar" e "The Harvest" são bastante particulares. Por isso que quando alguém fala que não gosta de "YFS" ou "Black Church", para mim é óbvio que isso só ocorre porque elas não prestaram atenção suficiente na letra. No geral, precisamos menos de frases como "smoke weed, fly dragons" no stoner atualmente.

Bolha Musical: Qual a experiência mais interessante que vocês já tiveram em turnê? Igor Sidorenko: Bom, fazer turnê já é uma puta experiência por si só! Se as pessoas pensam que fazer turnê é uma férias com cerveja grátis e um monte de groupies, sinto muito desapontá-los, porque não é nada assim. Fazer turnê é trabalho difícil, pesado, mas, no fim, a gente é abençoado com tantos bons momentos e impressões que nos fazem crescer como pessoa.

Bolha Musical: Como é a cena musical em seu país? E quais são suas considerações a respeito da cena stoner/doom metal contemporânea? Igor Sidorenko: O cenário underground na Ucrânia está florescendo nos últimos tempos, desde projetos eletrônicos até às mais conhecidas bandas de metal, como, por exemplo, a Drudkh. Pessoalmente eu recomendaria que as pessoas ouvissem grupos ucranianos como 5R6, Somali Yacht Club, e Ethereal Riffian. Esses caras tocam muito!!! Agora, falando do stoner doom/rock como um todo, a maioria das bandas hoje não sabe muito sobre o estilo. As bandas hoje gostam apenas das imagens – do oculto, da maconha, das barbas – e não exploram nada mais além disso. Foi exatamente isso que aconteceu com o grunge na década de 90 e com a música emo nos anos 2000 – os recém-chegados no gênero, ao contrário dos veteranos, geralmente acabam transformando o negócio num grande chiclete para a massa. Eu não estou querendo dizer que todas as bandas deveriam ser como Nirvana ou Nickelback (muitas bandas por aí hoje são realmente muito boas), a questão é que eu fui ficando de saco cheio do stoner por volta de 2011-2012. Hoje eu já nem ouço muito stoner rock ou doom metal. Ouço no máximo de 5 a 8 discos novos por ano e é isso.

Bolha Musical: O cenário político mundial está a todo vapor. Como isso afeta a música do Stoned Jesus? Igor Sidorenko: Pegando, por exemplo, a letra da música "YFS", já dá para ter uma boa ideia do que ela quer dizer! É claro que as últimas músicas que fizemos estão mais pessoais (até por conta desse nosso esgotamento em turnê), mas a questão é que a instabilidade política no mundo contemporâneo é de fato um medo legítimo.

Bolha Musical: Você conhece ou costuma ouvir algum artista brasileiro? Igor Sidorenko: Por eu ser fã de música progressiva, conheço mais as bandas nessa pegada – coisas do tipo Apocalypse, Bacamarte e Os Mutantes. Acho interessante ver como músicos dos mais diferentes países e localidades tocam de maneira diferente da nossa!

Bolha Musical: Quais são os planos da banda para o futuro? Haverá em breve um novo álbum, um novo EP, um novo videoclipe? Igor Sidorenko: Claro! Estaremos voltando ao estúdio em breve para gravar sete músicas novas – todas entre quatro e nove minutos de duração – o que fará desse o nosso mais longo álbum até o momento, totalizando de 50 a 52 minutos de música. Vai ser um álbum completamente influenciado pelo ritmo das turnês e pelo modo com isso anda afetando nossas vidas, fazendo um balanço entre vida-na-estrada e vida-em-casa. Musicalmente esse novo álbum que ainda gravaremos será menos agressivo que o "The Harvest", por outro lado será também mais obscuro e intenso. Essa ideia acabou vindo porque eu estava ouvindo bastante som industrial, noise rock e Kraut – e todas essas influências estarão presentes nesse novo registro a todo vapor. Podemos esperar também um álbum com bastante melodia, até porque sou fã incondicional de riffs memoráveis. Esperamos que esse novo álbum saia logo no começo de 2018, quem sabe.

Bolha Musical: Obrigado pela entrevista. Continuem tocando rock n' roll como vocês fazem! Para fechar, qual sua mensagem final aos fãs brasileiros? Igor Sidorenko: Mal posso esperar para vê-los, seus loucos! Vamos todos cantar "Jesus Chapado" juntos de novo! (risos)


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