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Músico Daniel Zé concede entrevista ao Bolha Musical

Não podemos, de jeito nenhum, dizer que o rock nacional carece de bons artistas e bandas. Há por aí vários e vários músicos, repletos de talento e boa vontade, que, infelizmente, não têm a atenção que realmente merecem. E de todos esses artistas Brasil afora, decidimos conversar essa semana com o guitarrista Daniel Zé.


O músico está longe de ser iniciante. Daniel Zé iniciou sua carreira por volta dos sete anos de idade, ainda na década de 80, quando começou seus primeiros acordes no violão. Com o surto do rock and roll àquela altura, ele não teve dúvida em seguir a carreira de músico quando viu os americanos do Guns n' Roses pela TV no Rock in Rio de 1991.

Estudou música no conservatório da ULM (Universidade Livre de Música), onde teve aulas com Olmir "Alemão" Stocker. Participou de bandas como Killers, Red Fox e Clave de Clóvis, mas, em 2013, optou em seguir carreira solo. Seu primeiro disco solo, "Memórias Meio Inventadas", foi lançado em 2014. E agora em 2017, saiu "Calma Karma", seu segundo disco.

Confira abaixo nosso bate papo com o guitarrista Daniel Zé.



Bolha Musical: Na hora de compor uma nova faixa (letra + música), quais elementos você mais leva em consideração? O que você faz questão de transmitir ao público? Daniel Zé: Nos últimos tempos, venho tentando um método meio “mediúnico” de composição. Tento suprimir o lado cerebral e mergulho numa área desconhecida e difícil de reconhecer, onde as sensações mostram mais o caminho do que definições; por isso a dificuldade em dizer com muita exatidão como nasceram essas canções. Eu sinto como se a música fosse algo que já existisse de uma forma oculta e que o meu trabalho é desvendar isso.

Bolha Musical: Você tem dois discos lançados até o momento: "Memórias Inventadas" (2014) e "Calma Karma" (2017). Como você avalia a evolução de um para o outro? Daniel Zé: Não sei se pode ser chamado de evolução, mas acho o "Calma Karma" mais variado, tanto em assuntos quanto em sonoridades. Gosto muito de ter conseguido contar uma história na faixa "Ágatas", já que sempre tenho a tendência de ir para o lado pessoal. Isso talvez possa ser uma evolução como letrista, mas veremos...

Bolha Musical: Se você tivesse que escolher alguma música de sua autoria para apresentar ao público (alguma canção que te dê orgulho e que te represente), qual música seria e por quê? Daniel Zé: Acho que a faixa "Kaiowá" tem vários elementos do meu trabalho. Ela tem um ar melancólico, ela é humanista, espiritual, tem uma harmonia bacana, arranjos legais e um pé na psicodelia, misturando outros sons e ritmos.

Bolha Musical: Você lançou seu último disco (Calma Karma) através de um financiamento coletivo. Como você acha que o crowdfunding auxilia na carreira de um músico? Daniel Zé: A minha fantasia ideal de crowdfunding é que ele se popularize de tal forma que seja possível planejar um projeto cultural de qualidade, onde todos envolvidos sejam remunerados de forma correta. Hoje, no mundo independente, tudo só acontece na amizade com pouco ou nenhum dinheiro. Então o fortalecimento do crowdfunding pode ser uma maneira de resolver isso.

Bolha Musical: Você acabou de fazer uma série de shows pelo interior de São Paulo. Dia 24 em Tatuí, dia 25 em Salto, dia 26 em Itapetininga e dia 27 em Sorocaba (todos os shows ao lado dos músicos Marina Dias e Lennon Fernandes). Qual foi o ponto alto dessa turnê? Daniel Zé: Eu, Lennon e Marina temos o Coletivo Parafuseta, somos três artistas solo e somos todos músicos um do outro. Eles são muito talentosos, foi um prazer fazer essa tour junto deles. A turnê foi muito legal e totalmente no esquema guerrilha e, pra mim, esse foi o ponto alto: conhecemos muita gente bacana e disposta a trocar ideias e afetos. Foi lindo.

Bolha Musical: Quais são as maiores vantagens, em sua opinião, de ser um artista independente nos dias de hoje? Você pode dizer que há mais liberdade criativa e controle sobre as coisas que estão sendo produzidas? Daniel Zé: Ser um artista independente é um ótimo aprendizado para se ter uma vida independente e uma alma independente. Você percebe como as coisas só andam quando você age e como não acontece nada quando você só fica esperando. Você também aprende a dar valor às colaborações, como é necessário ter ajuda e ajudar para que as coisas andem pra valer. Isso sem dúvida reflete em nosso crescimento pessoal.

Bolha Musical: Como o mundo ao seu redor influencia o seu trabalho – vide seu videoclipe "Braços de Cimento", que trabalha a relação do homem com a megalópole São Paulo? Daniel Zé: Inevitavelmente falo de mim nas músicas (ou falo de pessoas próximas). Não por acaso essa música nasceu depois que vim morar no centro de São Paulo, onde tudo acontece de forma mais acelerada. Essa forma sensorial de compor acaba sendo como uma terapia, em que você tem que cavar para encontrar os próprios sentimentos e, no fim, acaba encontrando sua relação com as coisas que te rodeiam.

Bolha Musical: Qual a análise que você pode fazer da música brasileira nos dias de hoje? Daniel Zé: Musicalmente vivemos uma era de ouro. existe muita coisa acontecendo, tanta coisa que é difícil até de se manter atualizado. Eu sempre imaginei que a diminuição do mercado musical traria menos negociantes e mais artistas para dentro da cena. Acho apenas que precisamos de um pouco mais de equilíbrio nessa equação pra que possamos sobreviver e fazer trabalhos de qualidade.

Bolha Musical: Quais são seus planos para o futuro (há novo disco, novo videoclipe, novo EP, etc)? Daniel Zé: Estamos preparando um novo clipe para a faixa "Calma Karma". Vou passar uns tempos na Europa pra fazer alguns contatos por lá e pretendo não demorar muito pra lançar um novo trabalho, seja disco ou EP.

"Músico Daniel Zé concede entrevista ao Bolha Musical" por Rafael Fioravanti | Bolha Musical

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