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Entrevista com o músico e produtor Raphael Mancini, autor do Projeto D

Acho possível viver sem uma grande gravadora e se auto sustentar com sua própria música. (...) Pra mim isso é um misto de anos de persistência, talento, foco e sorte

"Entrevista com o músico e produtor Raphael Mancini, autor do Projeto D" por Rafael Fioravanti | Bolha Musical

Esta semana, o Bolha Musical teve um bate papo interessante com Raphael Mancini. Com 35 anos de idade e um monte de ideias artísticas borbulhando na cabeça, não é só o trabalho de Raphael no Lab Mancini – seu estúdio particular na capital paulista, onde põe em prática sua paixão de gravar, mixar e produzir bandas autorais – que o mantem ocupado. Raphael é também uma espécie de one-man-band, ou seja, o responsável pela gravação de praticamente todos os instrumentos em seu projeto musical: da bateria ao baixo, das guitarras à voz, do teclado à mixagem. É o que ele batizou de Projeto D.

Com o Projeto D, Raphael já gravou dois discos: "Degradê" (2006) e "Somos Instantes" (2017). Apesar do espaço de onze anos entre um lançamento e outro, Mancini diz que isso não é problema, já que prefere fazer tudo na "maciota", sem pressa. Para ele, a chave para boas composições vem sempre da tentativa de buscar se superar entre um trabalho e outro.

Nesta entrevista que fizemos com o músico e produtor Raphael Mancini, ele explica em detalhes como surgiu o Projeto D e discorre também sobre a nossa cena musical contemporânea.



Bolha Musical: Primeiramente, como o Projeto D nasceu? Qual a ideia principal por trás desse projeto musical? Raphael Mancini: O Projeto D nasceu em 2006. A ideia era fazer um projeto parecido com o "City And Colour", do Dallas Green. Lembro que pirei quando escutei o primeiro disco dele e queria fazer algo parecido. Aí para não deixar o nome de "Projeto Dallas", acabei colocando Projeto D. A princípio, a ideia era ter só músicas com voz e violão; foi no decorrer dos anos que eu fui mudando isso, inserindo outros instrumentos.

Bolha Musical: Talvez uma das músicas mais conhecidas do Projeto D – sem contar o cover de "Carnival" do The Cardigans – tenha sido a faixa "Tive Um", que ganhou até videoclipe. Quais princípios você mais leva em consideração na hora de elaborar o seu repertório? Raphael Mancini: Todas as músicas que entraram nos discos são as músicas em que adorei a ideia no momento em que foram criadas. Se eu acho a ideia mais ou menos, nem termino de compor. Esse é o meu critério principal na composição e seleção de repertório. Só coloco as músicas que realmente significam algo pra mim, tanto harmonicamente quanto melodicamente.

Bolha Musical: Você tem, até o momento, três lançamentos em sua discografia: o EP "Duas Semanas" (2015) e os full lenght "Degradê" (2006) e "Somos Instantes" (2017). De que maneira um trabalho difere do outro? Raphael Mancini: O primeiro disco, "Degradê", é basicamente voz e violão e foi o pontapé inicial desse projeto. Foi gravado em 2006 e nessa época eu estava começando a aprender a gravar minhas próprias músicas em casa, então a qualidade de gravação é bem ruim. A forma de cantar também era bem diferente, mas as composições acho ótimas até hoje e, às vezes, ainda me pego escutando esse disco pela nostalgia que ele me traz. O "Duas Semanas" é um EP que foi gravado em 2015 para testar a acústica e os equipamentos do meu estúdio (na época, eu tinha acabado de inaugurá-lo); esse disco já traz outro momento da minha vida e ainda gosto muito dele, tanto da qualidade das músicas quanto da qualidade do áudio. E o "Somos Instantes" já é o mais recente; eu o considero o melhor até agora, tanto nas composições quanto na qualidade de gravação. Espero que o próximo disco que eu lançar supere esse, e assim vamos seguindo.

Bolha Musical: Se você tivesse de escolher uma música do Projeto D para apresentar ao público (alguma música que mais te dê orgulho e te deixe animado), qual canção seria? Raphael Mancini: A que eu mais me orgulho de ter criado, gravado e mixado é a primeira música do disco "Somos Instantes", chamada "Amparo". Pra mim ela é a que soa melhor, tecnicamente falando, além das melodias e harmonias que acho bem bonitas. Mas se eu fosse escolher uma música que representasse todo o projeto, seria "Mutação", que foi o primeiro clipe que lancei.

Bolha Musical: Além do seu lado musical com o Projeto D, você também trabalha com produção musical, sendo, inclusive, dono de um estúdio na capital paulista. Como o trampo de músico e produtor musical complementa um ao outro? Raphael Mancini: Além dos meus projetos pessoais, trabalho gravando e produzindo bandas independentes. Também crio trilhas sonoras para curtas, longas e peças publicitárias. No caso do "Somos Instantes", ele foi gravado sempre que eu finalizava a produção de alguma banda no meu estúdio. Como os equipamentos já estavam todos montados, eu sempre aproveitava para gravar alguma música minha entre uma banda e outra. Então acho que facilita. Fora o fato de sempre estar com um instrumento na mão, às vezes acaba saindo alguma ideia legal dali.

Bolha Musical: O Projeto D é interessante. Se eu tivesse que te classificar num estilo, eu te encaixaria, provavelmente, no pop rock alternativo. Como você enxerga o seu gênero nos dias de hoje? Raphael Mancini: Difícil responder essa, pois não penso em ficar sempre no mesmo estilo. Gosto e escuto muita coisa e não queria ficar preso a uma coisa só. Como compositor, eu acho importante visitar outros estilos musicais. Mas acho que hoje em dia eu seria mais um indie pop, talvez?

Bolha Musical: Em sua opinião, você consegue dizer que a cena independente evoluiu a tal ponto que hoje as grandes gravadoras não se fazem mais necessárias? Raphael Mancini: Acho possível viver sem uma grande gravadora e se auto sustentar com sua própria música. É difícil, mas pra mim isso é um misto de anos de persistência, talento, foco e sorte. Mas é claro que uma estrutura por trás facilita a vida do artista. Fazer tudo sozinho é difícil, até porque seria muito melhor se o artista se preocupasse apenas com o papel de fazer música. No meu caso, como já tenho 35 anos, não tenho mais aquela garra e energia que eu tinha nos meus vinte e poucos anos, de tentar viver da própria música. A prioridade da minha vida no momento é outra e acabo encarando meus projetos como algo pessoal, sem aquela pretensão toda da minha juventude. Acabo apenas usando a internet para divulgar meus trabalhos e, às vezes, me arrisco fazendo um show ali, outro aqui, pois também gosto de tocar ao vivo.

Bolha Musical: Quais as principais vantagens de ser um artista independente nos dias de hoje? Raphael Mancini: Acho que produzir no seu tempo. Sendo independente você lança música quando quiser, lança clipe quando quiser, faz shows quando quiser e deixa rolar. Vou na resposta clichê, mas temos a internet a nosso favor e ótimos sites de música, como o Bolha, pra ajudar a divulgar nossos projetos.

Bolha Musical: Para finalizar, quais são seus planos para o futuro com o Projeto D? Para onde você pretende levar esse seu lado musical? Raphael Mancini: Quero lançar mais clipes e mais discos, além de eventualmente fazer alguns shows por aí. Tudo na maciota, mas nunca parando de produzir.


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